OS INCAS E SEUS MISTÉRIOS – PARTE II
OS INCAS E SEUS MISTÉRIOS – PARTE II
José Carlos Buch
Cusco, ou Cuzco como escrevem os espanhóis, é uma cidade de 300 mil habitantes com 3.400 metros de altitude. Seu nome significa “umbigo”, no idioma quíchua. Os efeitos da altitude atinge praticamente a todos que a visitam e vão desde cabeça pesada, falta de ar e até mesmo gastrenterite. Os hotéis fornecem gratuitamente chá de coca para amenizar os sintomas, mas o uso de cápsulas de complexo B adquiridas em qualquer farmácia tem se revelado mais eficiente. Depois do fim do império, em 1532, o conquistador espanhol Francisco Pizarro invadiu e saqueou a cidade. A maioria dos edifícios incas foi arrasada pelos clérigos católicos com o duplo objetivo de destruir a civilização inca e construir com suas pedras e tijolos as novas igrejas cristãs e demais edifícios administrativos dos dominadores, desta forma impondo sua pretensa superioridade européia. Cusco hoje é a capital da província do mesmo nome e, além do turismo tem a sua economia voltada para a produção de minérios e gás natural. A parte antiga possui ruas estreitas, todas em pedras escuras e casas e edifícios mal cuidados que lembram os cortiços de nossas grandes cidades, embora tal como em Lima, a cidade é limpa e não se vê papel ou bituca de cigarro no chão. Na hora do rush o trânsito é infernal e não falta o tradicional buzinaço, marca registrada dos peruanos. As pessoas, todas descendentes dos incas, são como do resto do país, de baixa estatura, olhos puxados, cabelos negros e pele escura, mas muito amáveis. Para conhecer a cidade a dica é fazer um tour com o único ônibus vermelho que presta esse serviço e, em pouco mais de uma e meia se percorre os pontos turísticos mais importantes com fatos históricos relatados por um guia falando espanhol entendível. De Cusco a Machu Picchu é preciso cumprir uma verdadeira maratona que começa com a saída do hotel por volta da 4:00 hs da manhã em viagem de van até a pequena Ollantaytambo, percorrendo por mais de duas horas estradas que cortam uma topografia que varia de montanhosa com direito a picos brancos de neves e planície, onde predomina a agricultura de subsistência, principalmente com pequenas áreas plantadas em milho. Na pequena Ollantaytambo embarca-se em modernos trens que o turista pode escolher, dentre a três companhias que exploram o serviço, a classe que pretende viajar: luxo, executivo e stand. Diferentemente do que se imagina, o trem percorre por pouco mais de uma hora e meia, um trajeto paralelo ao leito do rio Urubamba, que é literalmente formado pelo derretimento das geleiras, até alcançar a última estação que fica na pequena cidade de Águas Calientes, que fica no sopé da montanha, espremida entre o rio e a linha férrea e possui perto de uma meia dúzia de hotéis e pousadas, muitas lojas e alguns bons restaurantes. Uma breve parada e tome-se um microônibus conduzido por hábil e especialmente treinado motorista(alguns mascando folhas de coca), que levará o turista a uma viagem de aproximadamente uma hora e poucos minutos, por estrada cascalhada ou de chão batido, serpenteando montanhas íngremes de mais de mil metros de altura que, ao olhar do alto, arrepia os ossos e dá calafrio n´ alma, até atingir o santuário de Macho Picchu. É comum encontrar pelo caminho aventureiros fazendo o percurso à pé ou mesmo de bikes. Apesar da altura das montanhas, em Machu Picchu não há problema de ar rarefeito ou altitude, pois ela está apenas há 2.400 metros acima do nível do mar, portanto, 1.000 metros abaixo de Cusco. Adentrar ao santuário é como voltar a mais de sete séculos no tempo e na história. Contemplando aquela imensa cadeia de montanhas, causa perplexidade o fato dos incas terem escolhido exatamente aquele lugar mítico para construir uma cidade que não abrigava mais do que mil pessoas. Estudos recentes relatam que era o lugar sagrado, retiro do soberano Inca Pacahcútec que com a sua corte, deixava Cusco no período de inverno mais rigoroso. Na cidade, a população habitava diferentes bairros: O Sagrado, onde fica o Templo do Sol e o Templo das Três Janelas; os dos Sacerdotes e da Nobreza; e o bairro dos agricultores, de construções mais simples e mais grosseiras. As plantações em terraços possuíam um engenhoso sistema de irrigação e boa parte da terra era trazia do vale até o alto. Os telhados eram de palha, não só porque eram térmicos, mas, sobretudo por serem mais seguros numa região sujeita a terremotos. Os cômodos possuíam muitas janelas no formato trapezoidal, porque os incas já sabiam que, no caso de tremor da terra ou terremoto, as janelas interrompem as trincas. Acredita-se que a cidade nasceu no início do século XIII e foi habitada até 1540, portanto, até a chegada dos espanhóis. Ficou esquecida no tempo por quase 400 anos, quando o aventureiro americano, Hiram Bingham, levado por um menino, a redescobriu em 24 de julho de 1911. Bingham ficou famoso por isso da noite para o dia nos Estados Unidos e Europa, com os seus relatos e sua fantástica descoberta. Considerada patrimônio universal pela UNESCO, ao lado de Chichén Itzá (Pirâmide Maia existente próximo a Cancun, no México), Macho Picchu recebe de 3.000 a 5.000 turistas por dia, que pagam em torno 50 dólares para visitá-la. Atualmente existe uma preocupação muito grande com a sua degradação, tanto é fato que se cogita suspender a visitação dentro de dois anos. Será? O fato é que o império Inca, quando da chegada dos espanhóis, se estendia do Peru até o México e compreendia mais de 15 milhões de habitantes, equivalente hoje à população do Equador. Segundo historiadores e o povo da região, o verdadeiro tesouro inca ainda não foi descoberto. É possível que o homem ainda o encontre em meio à densa e verdejante vegetação adornada por picos de neves na vasta região de selva e montanhas peruanas. Quem sabe! O retorno de Macho Picchu para Cusco, tem início por volta das 14:30 horas e compreende o mesmo desgastante périplo da ida, porém, no sentido inverso, sendo que a chegada ao hotel nunca se dá antes das 18:30 horas. Visitar Macho Picchu é realmente diferente, fascinante e interessante, mas para ser feito uma única vez e, a partir daí guardar na lembrança e nas fotos o retrato das marcas de uma sábia civilização não tão antiga, mas que conserva mistérios que só os incas sabem onde foram escondidos.
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