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EM 1960


  19 de janeiro de 2012

EM 1960

                                                                 José Carlos Buch

As pessoas que visitam a Ótica Ocular ficam fascinadas com uma foto em preto e branco tamanho 1,50 x 0,90 cm,  afixada na parede frontal no interior da loja, de modo que é impossível não visualizá-la, até mesmo da calçada. Na verdade, trata-se de uma reprodução da foto original, gentilmente cedida pela sra. Nair Martins Batista, viúva do empresário Gilberto Eufrázio Batista, e que  retrata a esquina da Rua Brasil com a Rua Bahia, com destaque à Casa das Linhas. Quem contempla a foto seguramente viaja no tempo, mais precisamente no mês de junho do ano de 1.960, portanto, há mais de meio século. Aquele ano foi marcado pela inauguração de Brasília, no dia 21 de abril e  a eleição de Jânio Quadros para presidente da República, em 03 de outubro, com 48% dos votos. Segundo o CENSO/IBGE, o país contava em 1960 com 70 milhões de habitantes e Catanduva com a população de 48.324 pessoas. Circulavam pelas ruas os automóveis Aero Willys, Volkswagen 1200 e Komb, Dauphine e Dauphine Gordini(ambos da Renault), além do DKM – Vemag.  Na foto observa-se as ruas Brasil e Bahia de paralelepípedos(eta palavra difícil!), revelando a cara de uma cidade provinciana que se destacava, já na época, por produzir um dos melhores carnavais do interior. Na TV, cuja imagem chegava toda rebuscada e movimentava-se freneticamente na vertical, a exibição pela TV Tupi – canal 4,  de Hamlet, de William Shakespeare, marcava o início do uso do videoteipe recurso para um público de apenas 200 mil aparelhos  na cidade de São Paulo. No rádio, a música mais executada era “Banho de Lua”, com Celly Campello, e Roberto Carlos gravava em 78 RPM as músicas “Canção de amor nenhum” e “Brotinho sem juízo” no ritmo de “Bossa Nova” e que poucos conhecem. Em Catanduva alguns registros merecem ser lembrados. No sábado de 2 de abril,  uma rebelião contra os péssimos serviços oferecidos pela CNEE – Companhia Nacional de Energia Elétrica, cujo estopim foi a falta de energia nos cinemas,  produziu confronto com a polícia e resultou em 11 feridos e 2 vítimas fatais.  Na política, o prefeito eleito Antônio Stocco era do partido de Adhemar de Barros, que era de oposição ao partido do governador Carvalho Pinto que se elegeu apoiado por Jânio Quadros. A obstinada eleição, por mais de uma década, do prefeito do partido de oposição ao governo estadual, conspirou contra um maior desenvolvimento da cidade, infelizmente.  Nessa época dizia-se que os recursos do governo do estado apenas passavam pelo trevo, indo aportar-se em São José do Rio Preto. Os vereadores não eram remunerados(bons tempos!) de modo que o cargo era exercido por puro idealismo. Padre Albino que peregrinava pelos sítios e fazendas na busca de doações para hospital e asilo, seguramente era a figura mais conhecida e respeitada da cidade.   A cidade era tranqüila e poucas eram as opções de lazer. Além do Clube de Tênis, privilégio dos mais ricos, existia o Clube de Campo, freqüentado pela média baixa e os pobres, mas, nos bairros não faltavam campos de futebol de chão batido. Os rios que tinham um volume de água bem maior e não eram tão poluídos, ofereciam a opção de pescaria e até mesmo oportunidade da prática do nado, principalmente no “Formigão” e “Formiguinha”,  na foz do Minguta com o São Domingos. Aos domingos, o futebol rolava solto, com os jogos do campeonato amador de manhã e à tarde do glorioso Catanduva Esporte Clube, com o seu tradicional uniforme vermelho e branco, no Estádio Silvio Sales, na Rua Amazonas. O tchã nos finais de semana à noite era passear de carro subindo a Rua Maranhão e descendo a Rua Brasil(que basbaquice!) e, para os que não tinham “pé de borracha”, restava a opção de curtir um cinema(Central, República e Bandeirantes), tomar uma vitima no “Orestes” e participar do footing na praça da República, ao som do “Serviço de Auto Falantes  Independência”, que iniciava e terminava a transmissão com a música “Summer Place”,  tema do filme “Amores Clandestinos” e  que ficou conhecida como hino das virgens.  Os limites da cidade não iam além dos tradicionais bairros e o serviço de água e esgoto não chegava à periferia. A economia do município girava em torno da produção de grãos que lhe proporcionou o título de “terra dos cafés finos” e, em 1962, de “capital do milho”.  Mas a antológica foto, seguramente retrata uma época em que usar chapéu estava na moda; tomar a fresca à noitinha sentados despreocupadamente em cadeiras dispostas na calçada, com longas conversas fiadas com os vizinhos, era um hábito salutar tal como cumprimentar educadamente as pessoas nas ruas. A foto retrata ainda uma época em que, principalmente nas colônias das fazendas, as pessoas repartiam o pouco que tinham e a solidariedade imperava mesmo nos centros urbanos. No dias de hoje a modernidade absorve o tempo, o humor e a energia de todos, e as pessoas perderam o hábito do abraço afetivo, do dedo de prosa, de perguntar da família e se interessar por isso, enfim,  perderam a essência do relacionamento humano. Talvez esteja faltando um pouco de antigamente na vida das pessoas.

                                                                 advogado tributário

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