NESSE NATAL

                                                                  José Carlos Buch

Reproduzindo “ipsis litteris”  cartinha de uma criança pobre retirada do Correio e que ilustrou o artigo “Carta ao Papai Noel”,  publicado em outro jornal da cidade,  no mês de dezembro de 2005.  “Catanduva, 27 de novembro de 2005 – Oi Papai noel. Eu me chamo Y… e tenho 9 anos estou na 2ª série e vou passar de ano. Eu tenho um irmão de 7 anos ele chama Y… e eu estou escrevendo por que ele ainda não sabe escrever carta para o senhor. O ano passado eu escrevi para o senhor mais o senhor não leo a minha carta ou será que o senhor perdeu a minha carta aí no pólo norte. Minha mãe falou o ano passado que esse ano o senhor não vai esquecer de ler a minha carta e a do meu irmão e não perde ta. Não não esquece de vim na minha casa ta. Se o senhor pudesse me manda um brinquedo para mim e o outro para o meu irmão eu gostaria que o senhor me mandace uma ferare grande de controle remoto e do meu irmão é também uma ferare grande de controle remoto mais de cor deferente. Papai noel estou rezando todas as noite para que o senhor não esquesa de mim e do meu irmão esse ano ta. Quando o senhor chega na minha casa gostaria que o senhor batesse na janela do meu quarto ou na porta da sala sabe por que papai noel na minha casa não tem chaminé para o senhor entrar ta. Obrigado: Papai Noel. Ass: Y…”    O signatário da cartinha hoje terá 18 anos e seu irmão Y 16 anos. Ele seguramente não deve lembrar-se  mais da “ferare” que recebeu do Papai Noel e que chegou em sua casa pelas mãos do carteiro do bairro. Possivelmente trabalhando durante o dia e estudando à noite,  alimenta o sonho de, primeiro tirar a carteira de motorista, depois comprar uma moto CG   ou mesmo o primeiro carro  que, pra começar,  pode ser um golzinho, do tipo bolinha,  mesmo. Seu irmão, dois anos mais novo, que sonha ser jogador de futebol e,  como integrante do projeto Cidadão do Futuro ou da Legião Mirim, também  persegue o mesmo sonho da moto ou carro, até lá se contenta em passear no sonhado carro do primogênito. Pode ser também que nada disso é o que se passa na vida dos dois irmãos que, assediados quando ainda adolescentes,  acabaram enveredando por outros caminhos e,  aí a vida tomou outra trajetória. Com certeza, as pessoas que ajudam o Papai Noel dos Correios a realizar essa magia, não sabem o destino das crianças que são atendidas. Sabem, contudo que, um dia  foram capazes de realizar o sonho e a fantasia de uma criança e,  isso é o que importa.  As cartinhas destinadas ao Papai Noel, continuam a chegar no Correio, mas,  hoje, diferente dos pedidos das “ferares” de controle remoto, as crianças, de um modo geral,  querem ganhar do Papai Noel,   iPhone, iPad, celular, tablets, computador, bicicleta de marca, etc.. Pouquíssimas são as  cartas com  pedido de roupas, brinquedos ou mesmo emprego para o pai. Pedidos de bonecas, bolas,  sapatos ou qualquer outro artigo de uso pessoal, são cada vez mais raros. Diante de pedidos tão inusitados e caros, Papai Noel dos Correios, certamente  vai ter que repensar o seu papel como realizador de sonhos. Talvez,  quando muito,  vai mandar dizer que o estoque desses eletrônicos acabou. Feliz Natal e lembre-se, o maior presente que você pode oferecer ao aniversariante é lembrando-se dele e vendo-o no seu próximo, porque é nele que Ele habita.     

                                                        advogado tributário

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