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CATANDUVA, CAPITAL NACIONAL DO VENTILADOR


  7 de novembro de 2022

Além de cidade feitiço –  marca registrada da nossa cidade –, houve um tempo, por pouco é verdade,  que ela chegou a ser lembrada também como cidade das bandeiras, talvez  por conta do título da música gravada pelo trio sertanejo de raiz,  Luizinho, Limeira e Zezinha,  que fez muito sucesso no final da década de cinquenta e sessenta. Porém, nessa mesma época chegou a ser conhecida como capital do milho(em 1958), mas se notabilizou mesmo  como  a cidade do melhor carnaval do interior. Era o tempo em que os desfiles das escolas de samba, blocos e carros alegóricos aconteciam na Rua Brasil e os bailes memoráveis e concorridos,  no Clube de Tênis, Clube dos Bancários, Nipo Brasileiro, Salão do Moringa e Sexto Quarteirão de Amigos. Essa época coincidiu também  com o surgimento das primeiras indústrias de ventiladores na cidade. Com o tempo e com o crescimento dessa indústria,  Catanduva passou então a ser conhecida nacionalmente como a capital do ventilador, título que, embora tímido, a distingue até hoje. A história teve início com a iniciativa de Abel Patriani que, no final dos anos cinquenta fundou a primeira e pequena indústria de ventiladores da cidade. Ele desenvolveu um ventilador que era composto de dois motorzinhos da marca Veg ou Brasil(o mesmo que era usado nos ventiladores de mesa e piso Bom Clima), nos quais adaptou hélices. Eram pequenos,  barulhentos e lembravam dois aviõezinhos ventilando o ambiente e girando lentamente num mesmo eixo. A morte do seu criador não muitos anos depois  decretou também o fim da fabricação desse produto. Hoje,  os poucos aparelhos  que ainda remanescem estão em mãos de colecionadores ou antiquários. No início da década seguinte, Raul Elias, outro percursor, com a ajuda de Primo Novelli(mecânico de veículos, principalmente importados)  teve a ideia de inverter o motor de uma enceradeira,  nele  adaptando  3 pás. Nascia aí,  no inicio dos anos sessenta,   o primeiro ventilador de teto do país,  tal como existe até hoje e genuinamente catanduvense. Assim, uma das primeiras indústrias do ramo – Raul Elias Indústria e Comércio, foi instalada na Rua Pernambuco esquina com a  24 de Fevereiro(atual usadão) e comercializava, à época,   a marca Vent-lux.   Nessa mesma época Primo Novelli,  juntamente com os filhos Wanderley, Walter e José, fundaram a empresa da família e começaram  a produzir os  ventiladores Novelli, aperfeiçoando o modelo idealizado por Raul Elias, passando a usar  motor da geladeira Climax Primavera,  que à época era fabricado pela Indústria Pereira Lopes de São Carlos. Esse motor equipou por alguns anos milhares de ventiladores fabricados pela Novelli,  que tinha à frente os irmãos Wanderlei e José e,  quase uma década depois, em 19 de janeiro de 1969, a Indústria de Ventiladores Novelli teve o  ingresso de outros dois sócios. A Novelli,  além de ser a pioneira na produção desse modelo de ventilador, tornou-se a maior do Brasil e assim permaneceu por muito tempo.  O motor de geladeira acabou sendo substituído por outro da terceira geração, sem correia e muito mais simples criado pelo catanduvense Anízio Zuchetto,  que era especialista em eletricidade de motores e transformadores e  que precisa ser reconhecido como o pai do ventilador de teto moderno. Esse motor revolucionou a indústria e, com o tempo,  outros aperfeiçoamentos foram implementados,  sendo o de maior relevância a substituição do alumínio por ferro.  Por muito tempo as vendas eram feitas para ambulantes, vendedores autônomos que enchiam seus carros e saiam pelas cidades oferecendo o produto e às vezes até instalando-o. Essa modalidade de vendas limitava a produção e impedia o crescimento da indústria.  A Novelli, passou então a direcionar suas vendas para lojas e magazines que eram visitadas pelos seus representantes, fato que elevou de forma significativa as vendas e em pouco tempo, exigindo ampliação da fábrica. Nessa época o nome Novelli chegou a ser sinônimo de ventilador de teto. Na esteira do sucesso da Novelli, em  08 de dezembro de 1969, surgia na cidade a Loren-Sid Ltda., uma empresa fundada pelos irmãos Valdir, Bruno e Iran Lorensini,  juntamente com Sidney Evaristo  Mazocco, já que este possuía experiência no ramo. Essa empresa que nasceu pequena, de início passou a fabricar modelo similar ao criado pelo pioneiro Abel Patriani que até hoje é fabricado, mas em pequena escala. Não muito tempo depois a Loren-Sid passou a fabricar produto similar ao da sua concorrente Novelli e  que foi desenvolvido com base num modelo italiano. Com o passar dos anos, mercê de  investimentos maciços em novas tecnologias, busca de novos mercados e agressiva politica de vendas, a Loren-Sid  alcançou a liderança do mercado,  tornando-se a maior fábrica de ventiladores do Brasil,   empregando no seu apogeu quase 1.500 funcionários. O sucesso dessas duas empresas despertou o interesse de outros investidores e fez surgir na cidade quase uma dezena de pequenas fábricas que não prosperaram, mas uma delas que havia sido fundada pelo sr. Martinez,  criador da marca “tufão” (funcionou na Rua Rio de Janeiro, quase em frente à Estação Cultura “Deca Ruette”), foi adquirida por Artur Grazzi, que era dono de uma fundição que existia na Rua Pernambuco. Essa pequena fábrica posteriormente foi vendida para Warley Agudo Romão(que viria ser o prefeito da cidade)  e posteriormente transferida para os irmãos Sleman e Omar Soubhia,  dando origem à Tron, fundada em 12 de abril de 1983. Antes disso, porém,  em 10 de agosto de 1979, os filhos dos fundadores da Loren-Sid, haviam  se unido e fundado   a Arge Ltda., que viria a ser a terceira fábrica de porte da cidade e que inicialmente funcionou no final da Rua Rio Grande do Sul, nos altos do Higienópolis. A cidade também foi sede do Clube do Vento, uma associação que congregava sete empresas do ramo existentes no país: Novelli, Lorensid, Tron(de Catanduva), Primavera e Arbel(de São José do Rio Preto), Silva(de São Paulo) e Martinez (Teresina/Piaui), o mesmo que havia criado em Catanduva a marca “Tufão”. Esse Clube que funcionou por alguns anos,  tinha como propósito trocar informações comerciais e negociar em conjunto a aquisição de matérias primas e componentes, principalmente alumínio e rolamentos,  visando mitigar os custos de produção e ampliar o mercado. Outro ponto que merece destaque é que,  no início dos anos oitenta, os ventiladores ganharam sofisticação com a adaptação de luminárias, tornando-os também um artigo de iluminação e decoração. Nos anos noventa a Novelli entrou em dificuldades,  foi quando em 24 de março de 1992, surgiu a Venti-Delta, idealizada por Antonio Cesar Trefiglio, sócio dissidente da Novelli. Atualmente remanescem três fábricas: Loren-Sid, Tron e Venti-Delta que,  juntas ainda respondem por mais de 70% dos ventiladores de teto fabricados no país. No auge  do consumo desse produto, principalmente no final do século passado,  pode- se dizer que o número de ventiladores que anualmente aqui eram  produzidos competiam com o número de veículos fabricados no Brasil. O Brasil possui aproximadamente 72 milhões de domicílios e,  em metade deles deve existir ao menos um ventilador de teto instalado. Se as indústrias locais detém 70% do mercado, estima-se que até hoje mais de 25 milhões de peças já foram fabricadas aqui, o que significa dizer que um produto genuinamente catanduvense proporciona conforto e bem estar a milhões de pessoas Brasil afora, principalmente as mais pobres. Do pequeno e barulhento ventilador idealizado por Abel Patriani, passando pelo modelo desenvolvido por Raul Elias e Primo Novelli e aperfeiçoado por Anízio Zuchetto, muita tecnologia foi incorporada ao produto, de tal forma que hoje, além de ventilar, iluminar e  tornar o ambiente mais agradável, o ventilador de teto,  com o seu design moderno e criativo,  é uma verdadeira peça de decoração. Catanduva que,  um dia chegou a ser declarada cidade das bandeiras,  capital do milho e conhecida como a de melhor carnaval do interior,  oficialmente não é reconhecida como a capital nacional do ventilador, mas bem que poderia ser. Afinal, a história, predicados e atributos não  lhe faltam, não é mesmo? E aqui vai uma sugestão – porque não mobilizar a sociedade civil e o comércio para fazer campanha no sentido desse título ser reconhecido pela Assembleia Legislativa do Estado?  E mais, porque o poder público junto com a iniciativa privada – leia-se as três fábricas existentes –,  não se unem para desenvolver projeto de instalação de  um enorme painel iluminado,  próximo ao trevo principal,  com a frase: “CATANDUVA, CAPITAL NACIONAL DO VENTILADOR”?  Este artigo é dedicado aos pioneiros da indústria de ventiladores de teto e seus familiares, mesmo àqueles cujos nomes involuntariamente não tenham sido citados.

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