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CIRCO TEATRO


  21 de março de 2017

CIRCO TEATRO

                                                                 José Carlos Buch

Estamos numa  noite qualquer de uma sexta feira no início dos anos sessenta,   no Circo do “Parpitoso”, mas poderia ser também no Circo do Lambari ou qualquer outro circo mambembe que sempre aparecia por aqui e, não eram poucos. Eles se instalavam sempre nos bairros da cidade –  São Francisco, Vila Mota e Vila Guzo e outros.  Naquela noite, o circo iria apresentar o drama “O mundo não me quis”. Em dias anteriores exibira “Sansão e Dalila” e “Amor e traição”, muitas do vasto repertório do cantor e compositor sertanejo “Zé Fortuna”, que escreveu mais de 40 peças. O espetáculo começaria às 20h30 e era dividido em 3 partes: a primeira com a apresentação da cantora Marina Escobar, esposa do dono do circo e que interpretava músicas da época do tipo  “dor de cotovelo”. A molecada, assim com eu destetava essa parte, mas como a gente “varava”(aproveitava o descuido dos guardas para, furtivamente,  passar por baixo da lona e ganhar as arquibancadas), não tinha do que reclamar.  A segunda parte era reservada aos  palhaços,  equilibristas, contorcionistas e  malabaristas e,  finalmente a terceira parte com a apresentação da anunciada “O mundo não me quis”. Às 20h00 os alto falantes indicavam o primeiro sinal. Aos poucos as pessoas iam chegando,  não sem antes deixar de comprar dos carrinhos que se encontravam na porta do circo,  uma pipoca,  um pé de moleque ou “quebra queixo” (doce feito à base de lascas de coco). Na época não havia refrigerante nem cerveja em latas, mas não faltavam também  os carrinhos de raspadinha e de sorvetes de palito. Às 20h15 era disparado o terceiro sinal e,  um outro retardatário ainda estava comprando o seu ingresso na bilheteria. Como a televisão não tinha a força que tem hoje e era privilégio de poucos, o circo se apresentava como uma opção barata e interessante de lazer, daí a existência de várias companhias que percorriam o interior anunciando suas atrações. Pontualmente às 20h30 o terceiro sinal marcava o inicio do espetáculo da noite. O som exterior do alto falante era desligado, apagavam-se todas as luzes e o dono do circo  surgia de trás das cortinas indo até o picadeiro para dar início ao espetáculo e anunciar a primeira atração. O som era precário, como de sorte as atrações  não traziam nada de extraordinário, mas era o que existia à época. As duas primeiras partes duravam em média 30/40 minutos, reservando-se o tempo maior para o drama da noite, dividido normalmente em três ou quatro atos. Antes do início o serviço de som anunciava os atores e os respectivos personagens que iriam representar. Nada era decorado e as falas de cada personagem eram assopradas por uma pessoa que ficava numa espécie de calabouço falso na parte central e frontal do palco com a cabeça escondida por uma caixa ovalada – era o telepronter da época.  Não havia microfone e as falas eram ditas em tom alto e apenas no gogó. Também não havia trilha sonora e a música só entrava para dividir um ato do outro. O figurino era pobre, tal como o cenário,  mas com esforço e  desempenho os artistas que eram uma espécie de “faz de tudo”,  conseguiam   transmitir a magia do teatro cuja fórmula clássica não muda –  odiar os vilões e os comparsas;  torcer para o mocinho e a mocinha; emocionar-se nos momentos mais dramáticos e sorrir com o final sempre feliz. Esses circos hoje só existem na imaginação daqueles que o conheceram e principalmente dos penetras  que cruzavam a sua lona. Poucos circos sobreviveram à evolução dos tempos e, os que ainda existem nem de longe lembram as lonas mambembes  da metade do século passado. Hoje o palco do circo foi transportado para estúdios suntuosos e cenários paradisíacos onde são produzidas as telenovelas que ainda atraem grande número de expectadores em horário nobre; o picadeiro cedeu lugar para os programas de auditório e alguns poucos de humor que, com raras exceções pautam sua formatação em games e, finalmente a arquibancada passou a ser o confortável sofá onde é possível assistir jogos de futebol ao vivo de todos os campeonatos, inclusive do exterior,   transmitidos com uma tecnologia capaz de levar os expectadores ao interior do estádio, sem precisar pagar ingresso ou transpor a surrada lona. O circo teatro morreu, mas o drama da vida continua…           

                                                        advogado tributário

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