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CONSECTÁRIO DE UMA TARDE DE DOMINGO


  26 de abril de 2013

CONSECTÁRIO DE  UMA TARDE DE DOMINGO

                                                                 José Carlos Buch

Esse fato se passou numa tarde de domingo de um ano qualquer da década de oitenta. O palco foi o velho estádio Silvio Salles de tantas histórias e tamanha tradição que deveria ser perpetuado e tombado como patrimônio da cidade, como fizeram inúmeras outras cidades com os seus estádios.  O Grêmio Esportivo Catanduvense tinha como seu  contador o sr. Gerson Meira(já falecido), um senhorzinho franzino de baixa estatura, discretamente alquebrado,  beirando os setenta anos, mas  muito simpático  e  responsável. Seu companheiro de escritório era o Marinho, gordinho e careca,  que cuidava com muito denodo  da documentação dos atletas perante a Federação Paulista de Futebol e controlava os cartões amarelos de cada um. Essa dupla trabalhava em harmonia e,  na história do Grêmio,  não há um só registro de perda de pontos por utilização de atleta em situação irregular. Registre-se que já naquela época a renda anunciada nunca ia além de 35% do valor efetivamente arrecadado nas bilheterias. Era o jeitinho brasileiro e prática usual  para sacanear Federação Paulista que cobrava suas  taxas tendo como base de cálculo o valor arrecadado. Ao que consta,  nada mudou!  Naquela tarde o estádio estava lotado. Até mesmo a arquibancada dos fundos,  como era conhecida, onde o sol queimava impiedosamente o rosto   e que ficava no sentido oposto da arquibancada do gol dos portões de entrada pela Rua Amazonas,  estava quase lotada,  ocupada em grande  parte pelos torcedores do Francana. O jogo era decisivo e valia praticamente a classificação à disputa do quadrangular no Pacaembu,  que daria  acesso à primeira  divisão do estadual e,  que na época era bastante longo e competitivo. O árbitro, dos quadros da FIFA e  de renome internacional,  tinha sido escalado tendo em vista a importância do jogo. No primeiro tempo o Grêmio atacava no gol dos portões de entrada. Jogo truncado, bastante disputado e poucas chances de gol. O Francana tinha optado por jogar recuado usando o contra ataque para surpreender. Por volta dos 35 minutos,  escanteio a favor do Grêmio. A torcida, principalmente da arquibancada atrás do gol se levantou antevendo que esse seria o momento. Cobrado o escanteio e antes mesmo da  bola alcançar a cabeça de um atacante ou zagüeiro na pequena área,   ouviu-se o apito do árbitro internacional – pênalti!!! — Não é preciso dizer que a gritaria dos adversários foi geral e com razão, pois nada de extraordinário acontecera, apenas um ou outro esbarrão ou contato físico,   que são absolutamente normais no futebol. Por conta disso,  um  cartão amarelo foi aplicado ao suposto zagueiro infrator e outro ao capitão reclamão, ambos injustamente, mas jogo é jogo! Superada a fase de empurrões e disse me disse, finalmente a bola foi caprichosamente colocada na marca de cal. Agora a expectativa era muito maior e os torcedores,  todos em pé no estádio,  aguardavam o momento decisivo para comemorar. O cobrador, salvo engano o centro-avante do Grêmio, mais um vez ajeitou com carinho a bola sem encarar o goleiro e afastou-se um cinco passos. Soou o apito e em seguida o chute firme e determinado que, para inconformismo geral, deslocou a bola para fora do gool, mais precisamente à meia altura,  passando igual foguete próxima à trave esquerda do goleiro. Decepção dos atletas dos Grêmio e comemoração dos adversários, inclusive,  dos torcedores do Francana na arquibancada dos fundos. Mas, convenhamos os deuses do futebol fizeram justiça!  Mais alguns minutos e o árbrito encerrou o primeiro tempo. No bar do Mandrake lotado, todos queriam saborear uma Antarctica bem gelada. Os vendedores de amendoim e sorvete que,  eletrizados,  também assistiram o jogo, começavam a se movimentar na esperança de recuperar as vendas perdidas nos primeiros 45 minutos.  O trio de arbitragem, após a saída dos atletas,  também iniciou sua caminhada rumo aos vestiários escoltado por policiais. Próximo ao vestiário do estádio o presidente do Grêmio cobrou do árbitro resultado positivo que havia sido “combin$do e ouviu a seguinte frase: — “O máximo que posso fazer agora é segurar o jogo no meio de campo para o seu time não tomar gol. Mais,  é impossível.”  Final do jogo sem gools e todos os torcedores retornaram para as suas casas lamentando a perda do pênalti e, um ou outro gol não assinalado, por conta do nervosismo dos atacantes. Por volta das 20:00 hs. o tesoureiro do Grêmio é chamado para levar até o restaurante “A Cabana” Cr$10.000.000,00 em espécie(dinheiro da época), que representava mais ou menos 1/3 do valor da renda obtida,  para ser entregue ao trio de arbitragem e representante,  juntamente com uma caixa fechada com 12 unidades de 500 grs. cada,  do “Café Itamaraty – vácuo puro”. Esse episódio, certamente jamais foi revelado e, como não poderia ser diferente,  ficou restrito aos que dele participaram, não mais do que sete ou oito pessoas.   Os nomes dos personagens dessa história real,  foram omitidos por razões óbvias e também em respeito à memória dos que já se foram, principalmente do protagonista principal e que levou a maior parte da “bolada” – o árbitro daquela memorável  partida.                             

                                                                 advogado tributário

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