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  31 de dezembro de 1969

O CUSPE


 O CUSPE                                                                          José Carlos Buch                                                 Em alguns povos da Ásia, principalmente na Índia, os homens têm o hábito de cuspir no chão  e  esse gesto parte da cultura indiana. Na tribo Masai encontrada no Quênia e na Tanzânia, cuspir uns nos outros é uma forma de saudação e, quando uma criança nasce, a forma de “batismo” adotada,  é o bebê ser cuspido pelos homens da tribo. Costume e tradição asiáticos à parte, o fato é que no mundo ocidental o ato de cuspir, além de repugnante, revela total falta de educação e desrespeito. É claro que em algumas situações cuspir é inevitável como, por exemplo,  na cadeira do dentista embora já existe nos consultórios mais modernos equipamento próprio para sugar a saliva poupando até mesmo o ato de cuspir. Em outras situações, o banheiro é o local mais indicado e, até mesmo o lenço de papel pode quebrar o galho. Conquanto, jogador de futebol confunde o gramado, palco da contenda, com banheiro e, o que é abominável e execrável com direito à close nas imagens veiculadas pela TV, diante do silêncio dos narradores. Ademais, já passou da hora da crônica esportiva tomar a iniciativa e fazer campanha no sentido de educar ou mesmo alertar os  “boleiros” para o fato de que o hábito de cuspir fere os mais elementares princípios da boa educação, além de violentar e agredir como uma verdadeira cusparada na cara  do telespectador que, em realidade é quem paga os vultuosos salários dos atletas, adquirindo produtos por eles divulgados e se fazendo presente nos, nem sempre, confortáveis estádios. Imagine os atletas do vôlei, do basquete, do futsal e de tantos outros esportes coletivos cuspindo na quadra a cada lance? Certamente, se isso fosse praxe ou mesmo costume como é no futebol, a cada queda o uniforme seria verdadeiro mata-borrão, tal como aqueles que eram usados nos tempos da escola primária nos idos dos anos sessenta, antes da popularização da esferográfica. O cuspe também já se constituiu motivo para inúmeras agressões em jogos de futebol. Basta lembrar o episódio em que o goleiro da seleção francesa Fabien Berthez insultou com uma cusparada o árbitro marroquino Abdellah E-Achiri, em 12 de fevereiro de 2005,  que lhe custou três meses de suspensão. No Brasil o caso mais recente diz respeito à punição com a suspensão de oito jogos em 02 de junho deste ano,  imposta ao atacante Neto Baiano do Vitória,   acusado de cuspir no rosto do atleta Ramon no jogo contra o Vasco pela Copa Brasil. Quem consultar o google vai encontrar as mais irônicas e engraçadas respostas para explicar a razão do cuspe nos gramados. Eis algumas: — “pra deixar a grama mais verdinha”; “porque eles não podem cuspir no juiz”; “pra bola deslizar mais fácil”; “você queria que eles ejaculassem em campo?”; “pra regar o gramado”; “onde você queria que eles cuspissem?” – e, por aí vai…. De todo o modo, como gramado não é cuspideira e não carece de cuspe como insumo e, como a cara do telespectador não é escarradeira, o melhor que se faz é fechar os olhos e fingir que se trata de um jogo de futebol e não de um campeonato de cuspe à distância.                                                                                              

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