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  15 de julho de 2024

O RÁBULA CID CASTILHO  


                                                                  José Carlos Buch

Bateu uma saudade danada do amigo Cid, dai me lembrei de um  artigo publicado em outro jornal em dezembro de 2010. Reproduzi-lo,  além de prestar homenagens,  é uma forma de reverenciar a sua memória. –    “Rábula”(Dicionário Aurélio Eletrônico – Século XXI): Indivíduo que advoga sem possuir o diploma. O personagem dessa história além de rábula, era também historiador, tabelião, autodidata, exímio contador de causos e dotado de uma memória de fazer inveja. O dia 26 setembro marcou 14 anos da sua derradeira viagem(N.R. atualmente 28 anos). Se fisicamente ainda entre nós estivesse contaria hoje com 85 anos(N.R. 99 anos, neste ano). De hábitos peculiares, começava o seu dia por volta das cinco horas da manhã e se recolhia logo após o jornal nacional, sem abrir mão da visita diária ao boteco para saborear duas “branquinhas” antes do almoço e, após esse,  uma prolongada soneca. Dos muitos anos de convivência e longas viagens, todas adornadas com um estoque inesgotável de causos, anedotas e fatos,  destaco algumas pérolas: 1)-Preleção do técnico do time amador Paulistinha de Pindorama ao ver o goleiro, um mulato alto de mãos grandes, todo paramentado com joelheira, cotoveleira e outros apetrechos, ávido para adentrar ao gramado,  antes do início da partida: –  “Ué, onde o cê vai? Espera o téco sô! Óia aqui pessoar – se tivé pênis, o Broinha é que bate, se alguém se machucá o Nico Preto passa arco. Vão com Deus moçada e cada um pra si”. – 2)- Na aula de português no Barão do Rio Branco, a classe estava insuportável e o principio de algazarra instalado. A professora, para impor a disciplina e principalmente “ferrar” os mais agitados, determinou  que todos tomassem uma folha de papel e fizessem  uma redação, valendo nota. No dia seguinte, anunciou as notas e, como não poderia  deixar de ser diferente, todas desastradas. Uma das poucas exceções foi a nota do Cid –  7,5,  a maior da classe. Ao ser indagado pela professora se ele estava contente com a nota, respondeu que ele sim, mas que provavelmente quem não deveria estar era o Rui Barbosa, pois o texto havia sido copiado do “Águia de Aia”. – 3)- Julio Marino contando sobre as belezas da Floresta Negra,  na Alemanha,  país do qual acabara de regressar, ao que o Cid atalhou descrevendo detalhes do Vale do Alto Reno, das cidades à sua margem, dos registros históricos, dos vinhos lá produzidos e da cultura local. Surpreso o Julio perguntou – Você já esteve lá? E a resposta do Cid – Viajei muito por aquelas bandas através dos livros. – 4)-  Certa feita foi preciso pernoitar na cidade de São Sebastião do Paraíso, pois a noite chegara e não havia como decolar, apesar da habilidade técnica e perícia do comandante Pagiossi(que também viajou para o outro plano prematuramente). Ao sair da repartição pública no finalzinho da tarde já com o sol se pondo,  deparei-me  com o Cid, no banco da praça,   portando duas sacolinhas com doces de leite e outras quitutes de Minas(com ele aprendi a gostar desses pequenos luxos) e discutindo com um morador antigo sobre a história de fundação, das pessoas e das famílias tradicionais da cidade. Para resumir, acabou por convencer o seu interlocutor que alguns personagens importantes daquele pedaço de chão mineiro eram egressos da sua segunda terra natal, Pindorama(ele era natural de Mundo Novo, hoje Urupês). Inúmeras foram as passagens pitorescas e interessantes vivenciadas que, logicamente,  exigiriam páginas e páginas para serem relatadas, contudo,  impossível em face a limitação compreensível de espaço. Intelectualmente realizado e, financeiramente nem um pouco ou, muito aquém do seu talento, o amigo e  guru Cid Castilho, nome que sempre grafou, escondendo o prenome “Renato” que só figurou originariamente no registro de nascimento e por ele propositadamente suprimido, viveu intensamente transbordando cultura e conhecimentos, deixando um legado notável, mas, mais do que isso, muitos amigos, a saudade que só aumenta e o meu particular pedido de desculpas que não foi possível fazê-lo antes da sua última viagem, por pequena desavença. Quem não teve a felicidade de com ele conviver, perdeu a oportunidade de ter conhecido um homem sábio.        

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