ÓIA O TREM
ÓIA O TREM
José Carlos Buch
De há muito que o trem deixou de ser um veículo confortável e glamouroso de transporte de pessoas para se transformar exclusivamente no quilométrico meio de transporte de produtos, principalmente soja, milho e etanol. Os não tão jovens devem se lembrar do trem leito que muitos o chamavam de “Gilda”, que passava na estação precisamente às 11h40 e chegava na estação da luz por volta das 7h30. As cabines asseadas eram confortáveis e o vagão refeitório tinha um serviço “à la carte” impecável, sem contar a magia e o fascínio da viagem, com direito às bucólicas paisagens, ao bilheteiro/picotador das passagens, ao vendedor de doces e guloseimas que circulava com um carrinho fazendo soar um sininho para chamar atenção dos passageiros e ainda ao tradicional grito do vendedor de revistas, todos devidamente uniformizados e com quepes na cabeça. O sono era embalado pelo sacolejo e balouçar do vagão e o barulho suave do atrito das rodas com as emendas dos trilhos. Vez ou outra se ouvia o apito, que alertava sem incomodar, sempre antecedendo as inúmeras paradas do percurso. Era o tempo nostálgico, sem internet, sem celular e sem a velocidade do tempo dos dias de hoje. Era o tempo que deixou saudade da Viação Real que levantava poeira com os seus DC3 pousando e decolando diariamente no Aeroclube. Era a época que não mais volta da Rodovia Washington Luis de pista simples de Limeira pra cá, e dos ônibus Cobratur, Expresso Brasileiro e Viação Cometa, esta última acabou incorporando as duas primeiras e juntas faziam concorrência à EFA, nas viagens para e de São Paulo. Era comum também os pais reunir os filhos e um grupo de amiguinhos destes para fazer passeio de trem até Santa Adélia, onde veículos já os aguardavam na estação para trazê-los de volta. Havia respeito entre as pessoas e o barato era curtir a jovem guarda nas tardes de domingo, sem as chatices dos Faustãos, Gugus e outros quetais não menos vulgares e insuportáveis. Mas, voltemos ao trem que tem importância fundamental como veículo de transporte de grãos do centro oeste para o porto de Santos. Semana passada um amigo comentou e até sugeriu escrever algo sobre o abuso e o incomodo das locomotivas da Ferroban que, não bastassem o transtorno provocado pelo comboio, formado sempre de algumas dezenas de composições atravessando a cidade e interrompendo o trânsito por até 30 minutos, verifica-se o abuso do apito que tem inicio antes de adentrar o perímetro urbano e persiste praticamente por todo o trajeto que corta a cidade. Que o alerta, tal qual o acionamento das cancelas são indispensáveis, ninguém discute, conquanto o que se questiona é o exagero do apito que não respeita até mesmo o silêncio da madrugada. Certamente é preciso comunicar esse desrespeito à diretoria da Ferroban e, caso não proporcione o resultado esperado só resta protestar colocando cartazes em pontos estratégicos dos trilhos para que o maquinista se toque e fique sabendo que, quem gosta de apito é índio não aculturado. Os cidadãos de Catanduva gostam de silêncio, já que poluição sonora é o que não falta!.
(Este artigo é uma homenagem a todos os moradores das proximidades da linha férrea)
advogado tributário
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