SER DIFERENTE, FAZ A DIFERENÇA

                                                                           José Carlos Buch

“O sol nasce para todos, a sombra para quem é mais esperto.”    (Stanislaw Ponte Preta)

Era o ano de 1965. À frente da sala de aula da 2º série ginasial, hoje sexta série do ensino fundamental, no recém inaugurado Ginásio Estadual Nicola Mastrocola,  o velho e sábio professor Virgilio de Arruda Mendes. Durante o dia o velho mestre exercia a profissão de  cirurgião dentista e à noite, como que por diletantismo ou idealismo, trocava os instrumentos e o consultório pelo giz, com o qual calmamente desenvolvia e fazia os alunos a desenvolverem complicadas fórmulas e exercícios de  matemática. As fórmulas se perderam no tempo, mas uma história que ele não se cansava de contar, não. O velho e saudoso mestre, para mostrar a importância de ser criativo e profissional diferenciado, incutia em seus alunos um fato real vivenciado por um dos seus ex alunos. Comentava que  Catanduva nos idos da década de cinqüenta e sessenta  na contava com rede de água, principalmente na periferia da cidade. Isso obrigava as famílias perfurarem poços, tipo cacimba, de no máximo oito metros de profundidade,  para obtenção de água. Muitos eram os poceiros, contudo, ocorria com freqüência que inúmeros desses poços não produziam água, porquanto após perfurar determinada profundidade os poceiros se deparavam com uma camada de rocha que, de tão resistente, impossível de ser perfurada. Nesse caso, o remédio era aterrar o fosso e partir para nova perfuração sujeitando-se ao pagamento de novo poço. Aí, segundo o mestre, é que entrava o trabalho do Toninho. Ele havia desenvolvido uma técnica e ferramentas apropriadas que permitia romper a camada de rocha até alcançar o lençol freático. Enfatizava o professor Virgilio que, onde parava o trabalho dos poceiros, começava o trabalho do Toninho que, por ser um profissional especializado e diferenciado, havia conquistado rapidamente fama,  prestígio e sucesso financeiro. E arrematava, que quem quisesse ter sucesso na vida deveria  pautar por ser o melhor, ser, ainda,  criativo, persistente e diferente, evitando a mesmice e o trabalho comum. Como mencionado, não me lembro das fórmulas e exercícios de álgebra e outros ramos da matemática, mas a história do Toninho que o professor Virgilio de Arruda Mendes contava, permanece viva e indelével em minha memória, assim como a sua imagem calma e serena, sempre trajando terno azul claro de linho. O professor Virgilio, após mais de cinqüenta  anos dedicados  à tarefa de educador(lecionava matemática e ciências) e, quando contava com 94 anos,   nos deixou em 15 de abril de 1.991, deixando além da saudade, o legado de inúmeros exemplos e ensinamentos  que marcaram a vida de muitos adolescentes, como é o caso deste colunista. Seu nome, merecidamente está imortalizado na mais jovem Loja Maçônica de Catanduva. Com outras palavras mas, nessa mesma linha, as sábias palavras  do publicitário Nizan Guanaes pinçadas do seu discurso pronunciado no ano de 2005, quando da formatura dos alunos da FAAP. Disse Nissan:  “É preferível o erro à omissão. O fracasso, ao tédio. O escândalo, ao  vazio. Porque já vimos grandes livros e filmes sobre a tristeza, a tragédia, o  fracasso. Mas ninguém narra o ócio, a acomodação, o não fazer, o  remanso. Colabore com seu biógrafo. Faça, erre, tente, falhe, lute. Mas, por favor, não jogue fora, se acomodando, a extraordinária  oportunidade de ter vivido. Tendo consciência de que, cada homem foi feito para fazer história. Que todo  homem é um milagre e traz em si uma revolução. Que é mais do que sexo  ou dinheiro. Você foi criado, para construir pirâmides e versos, descobrir continentes e mundos, e caminhar sempre, com um saco de interrogações na mão e uma caixa de possibilidades na outra. Não use Rider, não dê férias a seus pés. Não sente-se e passe a ser analista da vida alheia, espectador do mundo, comentarista do cotidiano, dessas pessoas que vivem a dizer: eu não disse, eu sabia! Evite o ócio, que é a morada do demônio, e constrói prodígios. E só o trabalho lhe leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão. E isso se chama sucesso.”  Por final, ao desejar a você votos de boas festas e feliz 2007, lembre-se dos sempre sábios ensinamentos do professor Virgilio  que podem ser resumidos numa singela frase –  “Ser um ser diferente, faz a diferença.”

                                                        Advogado tributário

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(publicado no jornal Notícia da Manhã, edição do dia 14/12/06)