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  31 de dezembro de 1969

TIRADENTES – O OUTRO LADO DA HISTÓRIA


“O povo tem o direito de fazer tudo que a lei não proíbe; contudo, as autoridades só deveriam fazer o que a lei permite.”
Carlos Alberto Libânio Christo – Frei Beto.

Provavelmente os fatos aqui narrados sobre o nosso Mártir da Independência, Joaquim José da Silva Xavier, constituem um pedaço da história que a história ensinada nos bancos escolares não nos revelou. Tiradentes nasceu no ano de 1.746, na Fazenda do Pombal, entre São José, hoje a cidade de Tiradentes e São João Del Rei, no Estado de Minas Gerais. O pai de Tiradentes era proprietário rural em São José e possuía, à época, recursos e prestígio social suficiente para ser vereador em sua cidade. Tiradentes tinha três irmãos, sendo que os dois mais velhos, Domingos e Antonio, abraçaram a carreira eclesiástica. O mais novo, José chegou a ser capitão de milícias. Tiradentes não fez estudos regulares, aprendendo as primeiras letras com o seu irmão mais velho Domingos. Ficou órfão aos 11 anos. Sua vida profissional registra que exerceu a profissão de mascate, minerador e médico prático. Sua alcunha adveio do fato de ser possuidor de muita habilidade com o manejo do boticão. Conta a história que ele “com a mais sutil ligeireza ornava a boca das pessoas com novos dentes, feitos por ele mesmo que pareciam naturais”. Com isso a sua popularidade se estendeu até o Rio de Janeiro. Quanto ao seu currículo militar, sabe-se que pertenceu ao Regimento de Dragões de Minas Gerais. Como alferes, posto que existia no exército do Brasil Colonial e Imperial e que corresponde atualmente à patente de 2º tenente, Tiradentes era comandante da patrulha do Caminho Novo, de Vila Rica ao Rio de Janeiro e mostrou-se eficiente e destemido na ronda do mato, contra ladrões, assaltantes e assassinos que rondavam aquela vasta região. Quatro vezes preterido nas promoções do exército, decidiu licenciar-se e voltar à mineração comprando um sítio na Rocinha Negra, comarca do Rio de Janeiro, não sendo, porém, bem sucedido no negócio. Tentou, também, em 1788, um empreendimento de vulto na cidade do Rio de Janeiro que compreendia a canalização dos rios Andaraí e Maracanã, objetivando melhorar o abastecimento de água da cidade. Idealizou, ainda, a construção de um trapiche e de um local para embarque e desembarque de gado. O vice-rei, entretanto, não acreditou nos projetos do nosso herói que, entretanto, vieram de ser executados por D. João VI. Em tudo inspirava-se no exemplo recente dos Estados Unidos, cuja constituição daquele país portava um exemplar no bolso. Não chegou a se casar, embora tivesse apaixonado por uma menina de 15 anos que já havia sido prometida, obedecendo aos costumes da época. Teve inúmeras amantes. Era uma pessoa pobre e muito inconformada com a situação da época. Integrou o movimento que pretendia tornar o país independente e que estava marcado para o dia em que fosse iniciada a cobrança dos quintos(impostos sobre o ouro), em atraso, conforme havia sido anunciado pelo recém empossado governador de Minas Gerais, o Visconde de Barbacena. Tiradentes teria a incumbência de prender o governador, quando recebesse a senha “Tal dia é o batizado”. O movimento, todavia, teve um delator. Barbacena suspendeu a derrama e Tiradentes foi preso no Rio de Janeiro a 10 de maio de 1789. Em Minas Gerais efetuaram outras mais de 20 prisões. O processo se arrastou por três anos período em que, igualmente,  o acusado permaneceu preso. Tiradentes assumiu toda a responsabilidade da rebelião. Foi o único que não mereceu o perdão régio, provavelmente por ser o único pobre do grupo e alguém teria que pagar pela rebelião. Condenado à força subiu ao patíbulo a 21 de abril de 1792, com 46 anos, depois de percorrer em procissão as principais ruas do centro da cidade do Rio de Janeiro. Nas janelas, nas portas, nos beirais, por sobre as árvores, o povo acompanhava cada gesto do padecente. À frente ia a cavalaria, com suas fanfarras. Depois, o clero – os franciscanos e a Irmandade da Misericórdia, rezando salmos. A seguir, acorrentado e monologando com o crucifixo que trazia à altura dos olhos, ia o condenado. Às vezes a procissão parava. O escrivão, então lia a sentença que foi pronunciada em nome da rainha de Portugal, D. Maria 1ª que, com certeza, nada soube do caso, pois estava louca desde o início daquele ano de 1792. O mandado que foi lido nestas paradas consistia do seguinte: “JUSTIÇA QUE A RAINHA MANDA FAZER A ESTE INFAME, RÉU JOAQUIM JOSÉ A SILVA XAVIER, PELO HORROROSO CRIME DE REBELIÃO E ALTA TRAIÇÃO DE QUE SE CONSTITUIU CHEFE E CABEÇA NA CAPITANIA DE MINAS GERAIS”. Às 11:00 horas, naquele sábado de 21 de abril de 1792,  sob um sol abrasador o séqüito chegou ao Campo de São Domingos, no Rio de Janeiro, local da execução. Três horas antes, partira do presídio. No patíbulo  aguardava-o o negro Capitania cujas mãos e os pés foram beijados pelo condenado. Antecedendo a execução, o frei Raimundo de Penaforte citou o Eclesiastes: “NEM POR PENSAMENTO DETRAIAS DO TEU REI. PORQUE AS MESMAS AVES LEVARÃO A TUA VOZ E MANIFESTARÃO TEUS JUÍZOS”. Em seguida, quando o povo e padecente rezavam o credo, de súbito, em meio a uma frase, houve um baque surdo, e o corpo do condenado balançava no ar. Para apressar a morte o carrasco pulou sobre os ombros do enforcado. Ambos dançaram um bailado tétrico. A sentença determinava ainda que o corpo fosse “espostejado”.   Morto, cortaram-lhe a cabeça e esquartejaram-lhe o corpo. Com seu sangue, lavrou-se uma certidão de que fora cumprida a sentença. Metidos em salmoura, seus restos mortais voltaram à Capitania de Minas Gerais. A cabeça dentro de uma gaiola chegou em Vila Rica em 20 de maio de 1792 e lá apodreceu no alto de um poste. Os quartos ficaram expostos ao longo do caminho novo, mais precisamente o quarto superior esquerdo foi pendura num poste em Paraíba do Sul. O quarto superior direito foi amarrado numa encruzilhada na saída de Barbacena. O quarto inferior direito ficou na frente da estalagem de Varginha  e, o último quarto foi espetado perto de Vila Rica. Sabe-se que não foi feito com Tiradentes e assepsia feita nos condenados e exigida pelos juizes da época, justamente para criar o estigma de mártir. O camisolão que compreendia a sua veste no momento em que foi levado à força, também, não era usado na época, tendo sendo adotado para imitar a figura de Cristo.  A polícia militar e civil o tem como seu patrono e o país como seu maior herói. Tiradentes saía da vida para entrar na história.

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