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  31 de dezembro de 1969

UMA MÃE SIMBOLO (BASEADO EM FATOS REAIS)


Muito pouco já se escreveu sobre o vocábulo mãe que, na língua portuguesa é representada singelamente por uma vogal e duas consoantes. Se o leitor pesquisar no Google vai encontrar muitos sites(a maioria vendendo produtos) e pouco escritos, sendo o que mais lembrado é a poesia “Para sempre” do renomado Carlos Drummond de Andrade. Com isso fomos tentados a escrever algo sobre essa figura mágica e fascinante cuja grandiosidade vamos tentar representá-la e personificá-la na história de uma protagonista real. Dia das mães faz lembrar a figura da Dona Nenê, uma senhora negra, de baixa estatura, de olhos negros sempre derramando amor e generosidade, de lenço branco e surrado escondendo os cabelos, principalmente os fios brancos, marca do tempo que o semblante insistia esconder por conta do sorriso, apanágio da sua humildade e bondade. Não se sabe ao certo se viva ainda está, nem tampouco onde mora… Se ainda nesse mundo, certamente carrega no coração a saudade, locatária permanente e eterna  dos quatros filhos que se foram há muito. Se no outro plano, decerto rodeada dos filhos Teto(lixeiro da Prefeitura), Cuca(pedreiro e zagueiro do time amador XV de Novembro), Valtinho(não teve tempo de exercer uma profissão) e Tuta(que desde cedo se identificava com o lado feminino), que, um a um,  a deixaram sozinha neste mundo, porquanto a sua missão, certamente,  era mais extensa do que a deles. Dona Nenê acordava no fim da madruga e antes mesmo do sol luzir no horizonte. Começava o seu dia preparando o almoço que seria acondicionado em marmitas de alumínio para os filhos Teto e Cuca. Os afazeres domésticos ocupavam o resto do seu dia, principalmente as roupas dos quatro filhos(haja cuecas!) que exigiam trabalho dobrado desde lavar e passar a fazer os remendos que evitavam que os novos rasgos estragassem ainda mais a velha roupa. A casa era outra preocupação. Uma construção antiga e modesta, sem forro, piso de cimento queimado e janelas de madeira de um azul desbotado, não dispunha de qualquer outro conforto, nem tampouco energia elétrica e água encanada.  Localizada no começo da coloninha do “turco”(de propriedade do sr. Francisco Elias, pai do Dadão, Miguel e Raul), como era chamada,  a colônia era porta de entrada da Vila Sicopan e ponto de encontro de muitos meninos pobres. Ainda assim, tudo era organizado e limpo na casa, os poucos móveis, não mais do que uma cristaleira ornamentada por um relógio cromado e  funcionando, encontrado no lixo pelo filho Teto; mesa e cadeiras de madeira na sala; guarda comida na cozinha, próximo ao fogão à lenha onde se destacavam velhas panelas de reluzente alumínio, algumas penduradas na parede e dois quartos com um guarda roupas de portas arqueadas, cinco velhas camas, nas quais ela e os filhos repousavam sobre colchões de palha de milho e travesseiros de plumas de algodão, muito comuns naquela época. O estado de  pobreza quase absoluta nunca a fez esmorecer e, jamais chorava ou lamentava a sorte que o destino havia lhe reservado. Incansável e perseverante Dona Nenê nos idos de 1960 não era muito diferente das pobres mães dos dias de hoje, principalmente aquelas que renunciam a tudo, até mesmo o convívio com os filhos pequenos, deixados em creches ou com a vizinha,  para serem “bóias frias”, domésticas, operárias e até mesmo coletoras de papelão, latinhas de alumínio e outros materiais recicláveis. Dona Nenê, cujo nome verdadeiro poucos conheciam,  simboliza as milhares e talvez milhões de mães que não mediam esforços, nem tampouco sacrifícios, para dar aos filhos a certeza de um futuro melhor e a esperança de uma vida digna. E, muitos desses filhos são hoje profissionais liberais, empresários e cidadãos bem sucedidos. A mesma sorte, contudo,  ela não teve, pois, viúva sem ajuda de ninguém criou quatro filhos  prematuramente levados por Deus, obrigando-a a enfrentar a velhice sozinha.                                                                                                           

advogado tributário www.buchadvocacia.com.brcolaborador do Notícia da Manhã

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