Blog
Home      Blog
  31 de dezembro de 1969

FORA NERO! VIVA NERO!


“Só há duas coisas certas na vida, a morte e os impostos.”

Benjamim Franklin(1706 – 1790)

Conta-se que Nero, imperador romano(37 a 68 d.C),  a quem alguns historiadores  atribuem a proeza de ter atirado fogo em Roma no ano 64 d.C., costumava todo final de tarde passear com sua biga pelos arredores do palácio. O protesto era geral e o povo não se cansava de gritar – FORA NERO! FORA NERO! FORA NERO! -. Um velha senhora, contudo, diferentemente da manifestação do povo, bradava em tom bem alto — VIVA NERO! VIVA NERO! VIVA NERO!. O imperador ouvindo aquela única voz dissonante diminui a velocidade da sua biga  e aproximando-se da  velha senhora  perguntou a razão de ser ela a única romana a não acompanhar a voz uníssona dos demais. A resposta veio rápida e sem devaneio – Sabe Imperador, nos meus longos anos de vida nunca vi um novo governante ser melhor que o seu antecessor. Marcado por escândalos e pelo ódio do povo por ter usurpado o trono do seu meio-irmão, Nero possuía uma crueldade atroz com os cristãos, taxando-os de suspeitos de prática de feitiçaria, sendo inculpados como incendiários e executados às centenas. As crueldades e deboches de Nero provocaram a repulsa dos adeptos mais próximos e da sua própria guarda pessoal(Guarda Pretoriana). Abandonado e prevendo a deposição e execução inevitáveis, Nero suicidou-se no ano de 68 d.C., legando-nos, porém, o tema da presente reflexão.

Há mais de vinte anos, lembro-me que escrevi um artigo para a revista “Feiticeira” relatando um fato ocorrido no Chile envolvendo um empresário amigo que lá se encontrava desenvolvendo o projeto de construção do primeiro Shopping Center  de Santiago. Em resumo o artigo descrevia a compra, pelo então empresário, de uma calculadora eletrônica  de bolso(muito em voga na época) e desabercebidamente deixando a nota fiscal sobre o balcão. O vendedor foi alcançá-lo a uma distância de mais de 50 metros da loja, alertando-o de que a falta do documento fiscal poderia trazer sérias conseqüências para a loja, inclusive o fechamento do estabelecimento. O mesmo artigo anotava também que em muitos países da América Latina e, principalmente, nos EUA, predominava o IVA-Imposto sobre o Valor Agregado, que era e ainda hoje  é cobrado uma única  vez, do consumidor final. Fácil, prático e sem qualquer burocracia.

Do mesmo Chile, vem nos exemplo de como solucionar o problema da previdência social. Lá há quase trinta anos, por força da reforma da previdência, o governo oferece um teto, que não tem vinculação com o salário do contribuinte nem é elevado(não chega a US$300),  a título de aposentadoria e pensão. O cidadão, tanto funcionário público como da iniciativa privada, que pretender continuar recebendo o mesmo salário após se tornar inativo, tem a opção de  contribuir a um fundo de pensão, estatal ou privado. O resultado dessa medida  que, repito, tomada há quase três décadas fez do Chile um país que não  apresenta déficit preocupante na área da previdência social e de quebra, os seus fundos de pensão são os mais sólidos da América, inclusive com investimentos no Brasil.

Em países desenvolvidos o número de tributos mal alcança a casa de um dígito. No Brasil, segundo alguns estudiosos já ultrapassamos a casa de seis dezenas. Pasmem, temos tributo que remonta ao tempo da coroa portuguesa como é o caso do laudêmio, que é uma taxa  exigida toda vez que há uma operação de compra e venda de imóveis, que na prática resulta em dupla tributação, já que a operação está sujeita também ao imposto de transmissão(cisa). Em nossa cidade esta taxa é cobrada nas operações que envolvem imóveis da área central da cidade(quem se sujeitou a ela, já sentiu na pela o quanto onera).

Praticamente não há um único dia útil sem que o empresário brasileiro não tenha que recolher um tributo.  No ranking mundial da carga tributária sobre salários, que compreende os tributos cobrados de empregados e empregadores em relação à folha de pagamento, somos vice-campeões com 41,7%, atrás apenas da Dinamarca que cobra 43,1%, segundo levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário.  Como adverte-nos o  Conselheiro Federal da OAB, José Carlos Souza Filho –“O estado brasileiro deveria ser repensado, para ser reorganizado. É autoritário, retrógrado, omisso diante das necessidades da população. De todos os serviços que presta nenhum presta. Só funciona mesmo para instituir e cobrar impostos e taxas. E o povo que se dane!”

Mas voltando ao personagem histórico Cláudio César Druso Germânico Nero, que inspirou este artigo, sabe-se que ele mandou matar a própria mãe, duas esposas, seu preceptor  o filósofo Sêneca  e até São Pedro. Teve a ousadia ainda de construir, em apenas quatro anos, o suntuoso e monumental palácio “Domus Áurea”, com 300 aposentos que lhe serviu de residência, a um custo astronômico. O dinheiro é claro, vinha dos impostos, que foram às alturas para alimentar a obra.

Nos dias de hoje, o protesto da velha senhora ao aclamar Nero, poderia ser traduzido pela preocupação de muitos, inclusive dos radicais e contrários às reformas, que entendem que o brasileiro nunca viu um tributo novo ser melhor que anterior(CPMF, CIDE, novo PIS, novo FINSOCIAL, etc) que o digam. Por fim, não será o caso de perguntarmos se os nossos governantes não estão usando os mais de 40% do PIB que arrecadam para construir um “Domus Áurea?”.

VEJA TAMBÉM:
10 de abril de 2024
FRASES QUE DIZEM MUITO – PARTE XII
26 de março de 2024
CRIME DA MALA, A VERDADEIRA HISTÓRIA
27 de fevereiro de 2024
FRASES QUE DIZEM MUITO – PARTE XI
19 de fevereiro de 2024
ANEDOTAS DE ADVOGADO
23 de janeiro de 2024
OS IRMÃOS QUE QUASE FICARAM MILIONÁRIOS
20 de janeiro de 2024
FIQUE DE OLHO NO TICKET

Solicite uma reunião com nossos
advogados especialistas:

Desenvolvido por BCS Desenvolvimento
Abrir bate-papo
Olá
Podemos ajudá-lo?