Blog
Home      Blog
  29 de maio de 2012

GUARANÁ AOS DOMINGOS


GUARANÁ AOS DOMINGOS

                                         José Carlos Buch e Edison Thadeu Guerzoni

Na década de cinqüenta e até sessenta, seguramente o sonho de todo   menino pobre era ter uma bola de capotão da Drible(como era conhecida a bola de futebol em gomos de couro e que ficou consagrada com o milésimo gol de Pelé), relógio, bicicleta e poder tomar guaraná. De todos esses desejos,  o mais fácil de ser realizado certamente era o guaraná, contudo, nas famílias pobres, a condição financeira permitia fosse apenas consumido aos domingos, junto com o tradicional almoço de macarronada com frango caipira e, é claro, também nas festas de final de ano. O charme era furar a tampinha de chapa de lata colorida  do caçulinha com a ponta de uma faca(que risco de doenças!) e se deliciar com o precioso refri. Refrigerantes mais caros como  Coca-cola, Crush, Mirinda, Grapette, Guaraná Paulista ou Antarctica eram privilégio dos mais abastados. Cada cidade praticamente tinha uma ou mais fábricas de guaraná e soda que eram os únicos produtos mais populares. Só muito tempo depois, na década de setenta,  passaram a fabricar os refrigerantes sabor cola e laranja e, tal como hoje,  eram pouco aceitos. Em Catanduva, além da fábrica Devito, que existe até hoje, tinha  a fábrica de refrigerantes Nechar, do Pedro Nechar que, sucedida pelos irmãos Bauab(Jamil e Anísio), no final da década de sessenta,  passou a chamar-se refrigerantes Recreio. Aqui aportavam ainda os produtos da marca Ferrari e Pic-nic, ambas de Potirendaba e também os da marca Brasil(muito consumidos na cidade), que eram produzidos pela família Bertoli, em Santa Adélia, cuja fábrica foi desativada não faz muito tempo. Os fabricantes Nechar e Devito, representavam respectivamente as cervejas Brahma e Skol, enquanto que a cerveja Antarctica, a mais preferida no Brasil, porém, superada pela Brahma na cidade,  era distribuída pelos irmãos Soubhia e Merighi, que não fabricavam refrigerantes. A concorrência das cervejas limitava-se às três marcas que, passado meio século, ainda continuam a dominar o mercado.  No segmento de refrigerantes a briga era muito maior, lembrando que o  consumo era limitado principalmente na classe mais pobre,  pois além das cinco marcas regionais(Devito, Nechar/Recreio, Brasil, Ferrari e Pic-nic), o consumidor de maior poder aquisitivo poderia escolher entre os produtos fabricados pelas próprias cervejarias, além da Coca-Cola/Fanta, Pepsi/Mirinda e Crush.  Pedro Nechar lembra com saudade que aos sábados a criançada fazia fila na porta da sua  fábrica para receber produtos que não tinham passado pelo controle de qualidade, tipo: com cisco, pouco gás ou envasamento insuficiente. Para receber o produto descartado era só levar vasilhame. Era a oportunidade de poder consumir o refrigerante sem pagar nada e sem precisar esperar chegar o almoço de domingo.  Essa mesma história, com outra formatação,  se repetia na vizinha Santa Adélia,  mais precisamente com a garotada do Ginásio Estadual e Escola Normal, que ficava nas proximidades da fábrica do guaraná Brasil. Após a aula de educação física e das peladas de futebol coordenadas pelo professor Ivo Dall´Aglio,  os alunos buscavam na fábrica o guaraná recusado pelo controle de qualidade que era feito manualmente, mas bastante rigoroso e eficiente. Na verdade, esse controle consistia numa estrutura cilíndrica metálica onde as garrafas passavam uma a uma sob uma luz intensa para verificar possíveis irregularidades no conteúdo, sendo que as garrafas que não atendiam o padrão da fábrica eram prontamente descartadas, porém, não impróprias para o consumo.  Ainda com as camisetas obrigatórias da aula de educação física, molhadas de suor após os embates futebolísticos, muitos alunos corriam imediatamente para a fábrica e, por um preço irrisório ou até mesmo sem custo algum, abriam as garrafas e,  envolvendo o gargalo da garrafa com a mesma camiseta dobrada para servir de filtro, tomavam de um só gole o conteúdo do refrigerante. Foi-se o tempo do guaraná somente aos domingos. Hoje qualquer criança tem acesso a todo tipo de refrigerante e, isso talvez  explica o porque atualmente do grande número de crianças com obesidade, fato que era raro no tempo do guaraná somente aos domingos. O guaraná é o mesmo,  mas  para as crianças daquela época o refrigerante tinha outro sabor –  o da inocência e responsabilidade da obrigação escolar; da alegria das peladas no campinho de terra; das brincadeiras de salva pega; do divertimento de   nadar e pescar nos riachos e,  da oportunidade de ganhar um tão  sonhado presente no Natal.  

                                                         José Carlos Buch

                                                         advogado tributário

www.buchadvocacia.com.br   

buch@buchadvocacia.com.br

Edison Thadeu Guerzoni

Engenheiro de Materiais, formado pela UFSCAR

etguerzoni@uol.com.br

VEJA TAMBÉM:
10 de abril de 2024
FRASES QUE DIZEM MUITO – PARTE XII
26 de março de 2024
CRIME DA MALA, A VERDADEIRA HISTÓRIA
27 de fevereiro de 2024
FRASES QUE DIZEM MUITO – PARTE XI
19 de fevereiro de 2024
ANEDOTAS DE ADVOGADO
23 de janeiro de 2024
OS IRMÃOS QUE QUASE FICARAM MILIONÁRIOS
20 de janeiro de 2024
FIQUE DE OLHO NO TICKET

Solicite uma reunião com nossos
advogados especialistas:

Desenvolvido por BCS Desenvolvimento
Abrir bate-papo
Olá
Podemos ajudá-lo?