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A ÚLTIMA AULA


  21 de setembro de 2011

A ÚLTIMA AULA

                                                                 José Carlos Buch

O professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Weber Figueiredo, na condição de paraninfo, em 13 de agosto de 2003, no auditório da UERJ,  ministrou a última aula aos seus ex-alunos,  formandos de engenharia que estavam acompanhados de seus pais. Eis um resumo dessa aula:    “Vou falar da importância do engenheiro para o desenvolvimento do Brasil. Para começar, vamos falar de bananas e do doce de banana, que eu vou chamar de bananada especial, inventada (ou projetada) pela nossa vovozinha lá em casa, depois que várias receitas prontas não deram certo. É isso mesmo. Para entendermos a importância do engenheiro vamos falar de bananas, bananadas e vovó. A banana é um recurso natural, que não sofreu nenhuma transformação. A bananada é = a banana + outros ingredientes + a energia térmica fornecida pelo fogão + o trabalho da vovó e + o conhecimento, ou tecnologia da vovó. A bananada é um produto pronto, que eu vou chamar de riqueza. E a vovó? Bem a vovó é a dona do conhecimento, uma espécie de engenheira da culinária. Um quilo de banana custa um real. Já, um quilo da bananada custa cinco reais.  Por que essa diferença de preços?  Porque quando nós colhemos um cacho de bananas na bananeira, criamos apenas um emprego: o de colhedor de bananas. Agora, quando a vovó, ou a indústria, faz a bananada, ela cria empregos na indústria do açúcar, da cana-de-açúcar, do gás de cozinha, na indústria de fogões, de panelas, de colheres e até na de embalagens, porque tudo isto é necessário para se fabricar a bananada.  Resumindo, 1 kg de bananada é mais caro do que 1 kg de banana porque a bananada é igual a banana mais tecnologia agregada, e a sua fabricação criou mais empregos do que simplesmente colher o cacho de bananas. Vamos citar outro exemplo que acontece no dia-a-dia no comércio mundial. Em média, 1 kg de soja custa US$ 0,10 (dez centavos de dólar), 1 kg de automóvel custa US$ 10, isto é, 100 vezes mais, 1 kg de aparelho eletrônico custa US$ 100, 1 kg de avião custa US$1.000 (10 mil quilos de soja) e 1 kg de satélite custa US$50.000. Vejam, quanto mais tecnologia agregada tem um produto, maior é o seu preço, mais empregos foram gerados na sua fabricação. Os países ricos sabem disso muito bem. Eles investem na pesquisa científica e tecnológica. Por exemplo: eles nos vendem uma placa de computador que pesa 100g por US$250. Para pagarmos esta plaquinha eletrônica, o Brasil precisa exportar 20 toneladas de minério de ferro. A fabricação de placas de computador criou milhares de bons empregos lá fora, enquanto que a extração do minério de ferro cria pouquíssimos e péssimos empregos aqui no Brasil. O Japão é pobre em recursos naturais, mas é um país rico. O Brasil é rico em energia e recursos naturais, mas é um país pobre. País pobre é aquele que não consegue produzir riquezas para o seu povo. Infelizmente, o Brasil é muito dependente da tecnologia externa.  Quando fabricamos bens com alta tecnologia, fazemos apenas a parte final da produção. Por exemplo: o Brasil produz 5 milhões de televisores por ano e nenhum brasileiro projeta televisor. O miolo da TV, do telefone celular e de todos os aparelhos eletrônicos, é todo importado. Somos meros montadores de kits eletrônicos. Casos semelhantes também acontecem na indústria mecânica, de remédios e, incrível, até na de alimentos. O Brasil entra com a mão de obra barata e os recursos naturais. Os projetos, a tecnologia, o chamado pulo do gato, ficam no estrangeiro, com os verdadeiros donos do negócio. Resta ao Brasil lidar com as chamadas caixas pretas. Não podemos admitir a continuação da situação esdrúxula, onde 70% do PIB brasileiro é controlado por não residentes. Ninguém pode progredir entregando o seu talão de cheques e a chave de sua casa para o vizinho fazer o que bem entender.  O que me revolta, como professor cidadão, é ver que as decisões políticas tomadas por pessoas despreparadas ou corruptas são responsáveis pela queima e destruição de inteligências brasileiras que poderiam, com o conhecimento apropriado, transformar o nosso Brasil num país florescente, próspero e socialmente justo. O dia que um presidente da República, ao invés de ficar passeando como um dândi pelos palácios do primeiro mundo, resolver liderar um autêntico projeto de desenvolvimento nacional, certamente o Brasil vai precisar, em todas as áreas, de pessoas bem preparadas. Só assim seremos capazes de caminhar com autonomia e tomar decisões que beneficiem verdadeiramente a sociedade brasileira. Quando isto ocorrer, e eu espero que seja em breve, o nosso País poderá aproveitar de forma muito mais eficaz a inteligência e o preparo intelectual dos brasileiros e, em particular, de todos vocês, meus queridos alunos, porque vocês já foram testados e aprovados.”  Felizmente, após essa histórica aula o país melhorou muito. Só não conseguiu melhorar a qualidade da grande maioria dos seus políticos que, lamentavelmente, a cada dia nos decepcionam mais.  

                                                        advogado tributário

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