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  28 de maio de 2013

ARTIGOS E NOTÍCIASBRINCADEIRAS DE INFÂNCIA


BRINCADEIRAS DE INFÂNCIA

                                                                 José Carlos Buch

O pátio da escola pública estava repleto de crianças. Era a hora do intervalo de uma manhã sem sol e céu carrancudo de outono,  como nos dias atuais. Algumas crianças abriam sua lancheira para saborear pão feito em casa com manteiga, ovo ou lingüiça e suco de limão galego. A grande maioria, portando uma pequena caneca de alumínio, aguardava na fila o momento em que começaria a ser servido o leite quente e de sabor delicioso que consistia do leite em pó fervido com água, objeto de doação da  FAO(Órgão das Nações Unidas), mas que dava uma baita disenteria nas crianças. Aos poucos, os pequenos grupos começavam a ser formados, pois haveria tempo para umas poucas brincadeiras. As meninas se juntavam e brincavam de passa anel; outras, haviam riscado o piso com giz e brincavam de pular “amarelinha” e,  outras ainda,  mais distantes,   fora do pátio,  praticavam “bola queimada” e  pula corda.   Já os grupos dos meninos brincavam de bafo-bafo(que consistia em espalmar as figurinhas colocadas no piso), bilboquê,  rodopiar pião,  jogo dos saquinhos de arroz ou feijão chamado de  “Escravos de Jô”(Escravos de Jô jogavam caxangá, tira, põe, deixa ficar… Guerreiros com guerreiros fazem zigue, zigue zá…) e, também, de mata a mata com bolinha de gude. Ao soar do sinal, todos retornavam às classes para a segunda parte da aula, muitos pingando de suor, com as mãos nem sempre limpas  e outros, ainda, com mancha de gordura no uniforme. Para aquelas crianças, a escola era um lugar de aprendizado(e se aprendia mesmo!), de veneração  ao professor, de respeito ao diretor, aos inspetores de alunos e mesmo aos serventes. Ao mesmo tempo, era uma oportunidade de lazer e prática de atividades lúdicas. No período da tarde os meninos brincavam de jogar bets ou futebol de asfalto cujo gol era demarcado com dois tijolos, já  as meninas de boneca ou de casinha. Eram brincadeiras que interagiam, divertiam, desenvolviam as atividades motoras e, mais do que isso, faziam o mundo infantil mais puro,  imaginário e fantasioso. Não existia ECA-Estatuto da Criança e do Adolescente, nem drogas e também não existiam menores infratores. As casas não tinham grades, a rua era um verdadeiro parque de diversão e as calçadas à noite eram povoadas de cadeiras tipo preguiçosas, onde as pessoas se reuniam para tomar a fresca e bater papo.  Nessa época, televisão e geladeira(com direito a pingüim em cima) eram artigos de luxo e toda  casa tinha uma carruagem esculpida em madeira e pintada de preto afixada na parede do abrigo,  um rádio à bateria ou ligado na eletricidade para ouvir durante o dia as radionovelas, patrocinadas pelo creme dental Colgate e  sabonete Lux(aquele que de cada 10 estrelas de cinema, 9 usavam Lux),  que eram retransmitidas  pela Rádio Difusora(única da cidade). À noite, as famílias mais simples curtiam pelas ondas do mesmo rádio os programas caipiras comandado por Geraldo Meireles na  rádio Nacional. Outras mais abastadas e de classe média assistiam as novelas em preto em branco da TV Tupi(canal 4) e Record(canal 7). As crianças permaneciam na rua até mais tarde sem qualquer risco de violência ou assédio de pedófilos, que nem se ouvia falar. As brincadeiras mais comuns eram o salva pega, pic salva,  para os meninos, passa anel, jogo da velha ou balança caixão(passará ou não passará,  algum deles há de ficar…) para as meninas. Hoje, poucas dessas brincadeiras remanescem, infelizmente. As crianças da nova geração já nascem plugadas nos programas infantis dos canais fechados da TV, tipo  Discovery Kids, Fox Kids, Disney e, enquanto os meninos curtem e  consomem brinquedos e roupas das marcas Ben10, Ironman,  Superman, Max Stell, Homem Aranha, Capitão América as meninas buscam tudo o que é da  Barbie, Monster High, Hello Kitty, produtos esses  quase sempre com preços que chegam a superar  50% o valor do mesmo artigo com a marca do fabricante. Nos restaurantes e mesmo em casa, não desgrudam os olhos dos jogos baixados nos  iPads e iPhones, para tranqüilidade dos pais, tranqüilidade essa que seguramente vai custar caro um dia mais tarde. Ademais, são sérios candidatos à obesidade não só por conta dos lanches dos “Mc Donalds” da vida, mas principalmente pela falta de exercícios físicos. As casas, outrora sem grades, hoje além de muros altos,  são verdadeiras fortalezas dotadas de aparato eletrônico(câmeras, alarme, sensores, etc) e são  monitoradas 24 horas. A rua não é mais o espaço para o jogo de bets, bola queimada e brincadeiras de salva pega, pois o perigo mora em cada esquina e mesmo na garupa de uma moto. Felizes àqueles que foram crianças há algumas décadas e tem histórias pra contar.

                                                        advogado tributário

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