Telefone:
(17) 3522-1198
Endereço:
Rua Ceará, 341 - Catanduva-SP

DEPOIS DA “CAMINHO SUAVE”, O CAMINHO DEIXOU DE SER SUAVE


  10 de setembro de 2014

DEPOIS DA “CAMINHO SUAVE”, O CAMINHO DEIXOU DE SER SUAVE

                                                                           José Carlos Buch

Aqueles que são da década de cinquenta e até mesmo sessenta, devem se lembrar da cartilha “Caminho Suave”, contudo,  poucos conhecem ou ouviram falar  da sua autora — Branca Alves de Lima – que, com a sua singela obra proporcionou a alfabetização de milhões de brasileiros e talvez até mesmo de você que está lendo este artigo. A capa da cartilha estampava um casal de crianças alegres apontando o dedo para o futuro. O método de ensino – segundo os entendidos – era o fônico, que associava letras e desenhos aos sons dos vocábulos.  Era “b” de bacia, “c” de cachorro, “d” de dado e por ai se ia. Numa fase seguinte,  as lições passavam a ser dadas apoiadas nas cartilhas e livros das “Coleções Sodré”,  criadas pela educadora Benedicta Stahl Sodré. Não sei bem o tempo que, em média, demorava-se para as crianças conseguirem dominar o alfabeto, formar palavras e até mesmo frases, mas me lembro muito bem que a cada consoante que se conhecia com o acréscimo de uma vogal era um verdadeiro achado – Bacia: ba, be, bi, bo, bu -, lembra-se?  A partir do segundo ano, os livros das Coleções Sodré traziam pequenas histórias que um dos alunos escolhido pela professora lia em voz alta e esta comentava os ensinamentos que estas histórias traziam. Fazia parte da lição escrever em seguida  sobre o tema abordado e isso permitia ao educador abstrair o grau de cognição de cada um.  Lembro-me de uma que contava a história de um menino que caíra num poço abandonado em local ermo e descampado e, de repente,  se viu longe de qualquer tipo de socorro tendo que lutar com as suas próprias mãos para sobreviver. Alimentando-se de algumas mangas que também haviam caído no poço, o menino passou a fazer pequenas fendas com as próprias mãos  na parede do poço para nela apoiar os pés e sair da cisterna. Depois de um ou dois dias, vencendo o medo e a escuridão,  finalmente conseguiu sair do poço e retornar para a sua casa, deixando a nós alunos, como mensagem final, a importância da determinação, da coragem de lutar e da ousadia nos momentos de dificuldades. Uma outra lição narrava o episódio de um pessoa com deficiência física que, a caminho do trabalho,  passava diariamente por um determinado local e era debochado e humilhado por um grupo de adolescentes(hoje conhecido como bullying). Esse fato se repetiu por dezenas e dezenas de vezes até que,  em determinado momento, perdendo a paciência,  partiu para as vias de fato e agrediu alguns dos insultadores. Por conta disso foi indiciado e teve que responder ao processo.  No julgamento o advogado de defesa limitou-se a repetir por dezenas de vezes uma mesma frase de desagrado ao juiz até que este perdeu a paciência e o ameaçou com prisão por falta de princípio ético e comportamento funcional não condizente. Nesse momento, o defensor invocou a história do réu dizendo que este tivera o mesmo comportamento do magistrado diante de repetitivas e reiteradas ofensas, justificando a  perda do equilíbrio e as razões da agressão. Claro que não se pretendia fazer apologia à agressão, mas o fato é que a lição deixada pela história  mostrava a importância da ampla defesa e do principio do contraditório(termos que só se tornaram conhecidos  com a Constituição de 1988),  e os limites da paciência do ser humano diante de situações de reiteradas ofensas e agressões.  Os lampejos e fragmentos das duas  histórias  devem ter tido muita importância na vida de muitos, inclusive na minha, que aprendi a ser determinado, criativo,  tolerante(mas é preciso ser mais!) e, principalmente, escolher a mesma profissão do defensor do deficiente. À medida que os anos se passaram a vida foi mostrando que os caminhos não eram tão suaves, mas,  menos íngremes para aqueles que nunca abandonaram as lições aprendidas com as sábias professoras. Cada um de nós tem uma história ou uma lição trazida dos bancos escolares e, no momento em que você lê este artigo, é de se perguntar – você já refletiu e descobriu qual  é sua história? Faça isso e, seguramente você vai ter certeza  que,  uma ou outra  mensagem deixada,  em algum momento, por certo,  ajudou a construir a sua personalidade ou no mínimo contribuiu para com ela. A propósito,  no momento em que o país se prepara para escolher seus candidatos a cargos públicos, a grande maioria, na realidade buscando apenas um caminho suave para si, sem muito comprometimento com o país, como é próprio dos políticos brasileiros, com raras exceções,  é relevante reproduzir o  pensamento de um dos maiores presidentes que os EUA já teve e que se presta a qualquer candidato que se preza:   “Diz-se que todo homem tem sua ambição particular. Seja ou não verdade, posso dizer por mim mesmo que não tenho outra(ambição) tão forte quanto a de ser realmente estimado por meus próximos, tornando-me digno de sua estima. Até onde serei capaz de realizar essa ambição ainda está por se revelar.” (Abraham Lincoln – 1809 – 1865,  quando tinha 23 anos em sua carta ao Povo do Condado de Sangamon, durante a sua primeira campanha como candidato a cargo público de Illinóis).                 

                                                                 advogado tributário

                                                        www.buchadvocacia.com.br

www.buchbook.blogspot.com        

                                                        buch@buchadvocacia.com.br

Top