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FÁBULA DA FESTA NO CÉU


  30 de novembro de 2001

FÁBULA DA FESTA NO CÉU  
José Carlos Buch

Quando criança, em meados da década de cinqüenta,  meus pais tinham o hábito de esperar o sono chegar sentados na calçada de grama e rua de chão batido, conversando com vizinhos. Dessa época lembro-me de uma história contada pelo meu pai que falava de uma festa no céu promovida por bichos que voam. Essa história com pequenas ilustrações tem sido contada aos meus netos e pasmem, é a que eles mais gostam. Por ela, eles viajam no mundo fascinante da fantasia e por instantes esquecem os filmes de desenhos, os heróis cujos nomes em inglês são até difíceis de serem pronunciados(Iron-man, MaxSteel, Power-man, Spider-man, além dos tradicionais Batman, Superman),  e os dispensáveis “Ipad”, que podem dar sossego aos pais,  prendendo a atenção dos pequenos, mas roubam pedaços preciosos da infância das crianças. Conta a fábula que a bicharada de asas, capitaneadas pelo urubu,  resolveu fazer  uma festa no céu. Todos foram convidados: a pomba, o pardal, o lagarto(lagarto tem asas?) o pato d´água, o tucano, o pinta silva, o jaboti(Jaboti não foi não, pois não tem asas), a rolinha, o canarinho da terra e do reino, o tatu bola(tatu não voa), a garça, o quero-quero, o beija-flor, o tico-tico  e tantos outros que a própria criança acaba se lembrando. O sapo, muito atrevido, resolveu que participaria da festa de qualquer jeito. Mas como participar se sapo não tem asa? Bem, aí entrou a imaginação. No dia programado para a festa, o sapo entrou sorrateiramente na viola do urubu e, escondido,  acabou viajando com ele. Na festa tinha de tudo, guaraná, coca-cola, sodinha, suco de laranja e de pêssego,  salgados(pipoca, pastéis, coxinhas, esfiha, surpresa de milho…, brigadeiro, maçã do amor,  algodão doce, geléia, bala de coco, bolo recheado de morango). O sapo esperou a festa começar e quando todos dançavam ao som da música “Eu quero tchu…eu quero tcha”, saiu do interior da viola e se misturou com todos os pássaros, enchendo a barriga de guaraná, salgados e doces. Mas, sapo voa? Claro que sapo não voa e então foi aí que o urubu se deu conta que tinha ouvido um barulho na viola e concluiu que o sapo tinha viajado escondido. Outros bichos também ficaram indignados com a ousadia do sapo e foi aí que o urubu, que era um dos organizadores da festa, decidiu tirar o intruso da festa e o mandou de volta à terra. Acontece que como sapo não tem asas, ele acabou sendo atirado ao espaço e antes de atingir o solo e uma enorme pedra próxima ao um rio, gritou: – “pedra sai de baixo, se não te esborracho”-, o que pouco adiantou, pois  ao cair atingiu a pedra e ficou todinho despedaçado, mas mesmo assim não morreu. Nossa Senhora ficou com pena do bichinho e juntou os pedaços esparramados no chão e os costurou juntando todas as partes. É por isso que o sapo é  todo remendado, enrugado, cheio de dobras e feio. Mas o sapo aprendeu uma lição, jurou nunca mais ir em  festa que não tenha sido convidado. Com outras palavras, essa é a essência da história que povoou a minha  infância e continua a encantar o sonho e a fantasia dos meus netos. É uma história simples que pode ser contada por qualquer um e pode ser incrementada com novos ingredientes e personagens atuais reproduzidos por inúmeros programas infantis da TV. A fábula da festa no céu que sempre imaginei fosse uma invenção do meu pai ou um legado de família, acabei descobrindo na internet é uma adaptação do conto de Luís da Câmara Cascudo. Apesar de ser uma fábula muito antiga, deixa uma lição também para nós adultos que se presta a qualquer tempo e qualquer lugar  — não devemos ir onde não somos chamados.             

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