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INDIFERENÇA E A CRIATIVIDADE


  19 de março de 2012

INDIFERENÇA E A CRIATIVIDADE

                                                                 José Carlos Buch

CASO I – Eis que um sujeito desce na estação do metrô de Nova York, vestido jeans, camisa e boné. Encosta-se próximo a entrada. Tira o violino da caixa e começa a tocar com entusiasmo para a multidão que passa por ali, bem na hora do rush matinal. Mesmo assim, durante os 45 minutos em que tocou, foi praticamente ignorado pelos passantes. Ninguém sabia, mas o músico era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, executando peças musicais consagradas, num instrumento raríssimo, um Stradivarius de 1713, estimado em mais de 3 milhões de dólares. Alguns dias antes, Bell havia tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custavam a bagatela de mil dólares. A experiência no metrô, gravada em vídeo, mostra homens e mulheres de andar ligeiro, copo de café na mão, celular no ouvido, crachá balançando no pescoço, indiferentes ao som do violino. A iniciativa, realizada pelo jornal The Washington Post, era a de lançar um debate sobre valor, contexto e arte. A conclusão é de que estamos acostumados a dar valor às coisas, quando estão num contexto. Bell, no metrô, era uma obra de arte sem moldura. Um artefato de luxo sem etiqueta de grife. Uma coca-cola numa jarra de plástico; uma camisa da Polo Ralph Lauren sem o cavalo;  uma roupa da  Brooksfield sem os patinhos ou, ainda, uma bolsa Louis Vuitton, sem o logo mais cobiçado pelas mulheres. 

CASO II – Havia um cego sentado numa calçada em Paris, com um boné a seus pés e um pedaço de madeira escrito com giz branco – “Por favor, ajuda-me, sou cego.” Um publicitário da área de criação que passava em frente a ele, parou e viu um das poucas moedas no boné. Sem pedir licença, pegou o cartaz, virou-o, pegou o giz e escreveu outro anúncio. Voltou a colocar o pedaço de madeira aos pés do cego e foi embora. Ao cair da tarde, o publicitário voltou a passar em frente ao cego que pedia esmola. Seu boné, agora, estava cheio de notas e moedas. O cego reconheceu as pisadas do publicitário e lhe perguntou se havia ele quem reescrevera o cartaz, sobretudo querendo saber o que ele havia escrito. O publicitário respondeu – “nada que não  esteja de acordo com o seu anúncio, mas, com outras palavras.” E, sorrindo continuou o seu caminho. O cego nunca soube o que estava escrito, mas seu novo cartaz dizia: “Hoje é primavera em Paris e, eu… não posso vê-la.”  Não sei ao certo a que conclusão chegar, mas são duas experiências fascinantes que merecem reflexão.  Joshua Bell com o seu Stradivarius de 1713, não atraiu a atenção de ninguém porque as pessoas não foram avisadas que ele estaria na estação do metrô e, mesmo que uma placa o identificasse, ainda assim poucos o reconheceriam ou acreditariam ser ele em pessoa. Já,  o cego não passaria de mais um pedinte numa cidade onde eles não são muitos(ou não eram!),  não fosse a iniciativa de um publicitário. A diferença entre ambos é a forma de comunicação. Um músico famoso numa estação de metrô não passa de mais um anônimo como tantos que sobrevivem dessa arte nas ruas. Um cego sem uma placa sugestiva, ainda que escrita com um simples giz branco, não passaria de mais um pedinte de cidade grande que, ao cabo de um dia sentado na calçada, não iria além de amealhar algumas poucas moedas.            

                                                                 advogado tributário

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