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KI SUCO E BISCOITO ÁGUA E SAL


  23 de dezembro de 2019

 KI SUCO E BISCOITO ÁGUA E SAL

                                                                  José Carlos Buch

Houve um tempo que na escola pública não tinha merenda nem cantina, mas tinha ensino de qualidade.  Os alunos que podiam,  traziam lanche de casa – duas fatias de pão feito em casa com ovo, ou com linguiça, ou com molho de tomate, ou ainda com manteiga,  sendo que o leite era por conta da escola. Na verdade tratava-se de leite em pó, fornecido em sacos de 30 quilos,  pela FAO,   que é um programa mundial de alimentos, ou programa de alimentos para o mundo da ONU, que  ainda existe, mas atualmente é conhecido pela sigla PMA. Nos dias de hoje esse programa beneficia em média  90 milhões de pessoas em 80 países, incluindo 58 milhões de crianças.  De sua sede em Roma e  escritórios em mais de 80 países ao redor do mundo, as ações da PMA ajudam pessoas incapazes de produzir ou obter alimento suficiente para si e para suas famílias. O leite da escola era danado de bom e muito gostoso e, sempre  servido quente em canecas de plásticos que as crianças traziam de casa. Tinha até um modelo de caneca sanfonada que se recolhia igual persiana e cabia no bolso.  Muitos não tinham lanche,  então o leite era bem vindo e o único alimento possível no intervalo que dividia dois períodos das aulas.  Alguns alunos não se davam bem com esse leite, caso desse colunista,  e a flatulência e a diarreia era inevitáveis, porquanto desconheciam que tinham intolerância à lactose, patologia à época pouco conhecida. Segundo a enciclopédia livre Wikipédia,  65% da população mundial convive com algum tipo dessa intolerância – em menor ou maior grau.  Até hoje está vivo na lembrança de muitos daqueles alunos do primário, o sabor delicioso daquele leite, que seguramente  tinha um poder nutritivo muito infinitamente superior ao melhor Ki suco,  se é que existe ki suco melhor. Em outros tempos a escola pública servia leite, hoje, serve ki suco e um único biscoito água e sal por aluno, por isso o título antinômico desse artigo. E,  é isso que se vê num vídeo que está bombando no WhatSapp mostrando uma fila de alunos menores de 10 anos,  da Escola Municipal “Adonias Carvalho Ramos”, de Santa Luzia do Paruá, no estado do Maranhão, recebendo uma caneca plástica de ki suco e  um único biscoito água e sal, também conhecido como bolacha água e sal. A merendeira, segurando uma bacia do produto, entrega a cada aluno e  não cansa de repetir – é só um –, diante da cara de indignação e espanto  das crianças que,  logicamente queriam mais. O prefeito e os políticos desse município maranhense, que conta com mais de 30 mil habitantes e fica a 277,5 quilômetros  da capital São Luiz, deveriam  se envergonhar desse vídeo circulando na internet. Mas como vergonha é algo que não consta do dicionário de alguns poucos políticos e um verbo que essa minoria não costuma conjugar, estão pouco se lixando com as necessidades básicas dos alunos.   Seguramente a situação, infelizmente, em muitos outros municípios do nordeste não deve ser muito diferente. Acompanha o vídeo a seguinte mensagem que é reproduzida ipsis litteris: “Um país que serve café, almoço, dois lanches e jantar para os presos; serve vinho importado e lagostas aos ministros do STF, mas serve apenas uma bolacha com ki-suco para uma criança na escola, não pode ser levado a sério.” A mensagem diz tudo!          

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