LIÇÃO DE VIDA
LIÇÃO DE VIDA
José Carlos Buch
Alguns fatos marcaram o ano de 1961. Para nós brasileiros, a renúncia do presidente Jânio Quadros ocorrida em 25 de agosto mudou o curso da nossa história. Para o mundo, os registros mais importantes dizem respeito à primeira viagem do homem ao espaço pelo cosmonauta russo Yuri Gagarim, em 12 de abril e o início da construção do fatídico muro de Berlim, que ficou conhecido como “muro da vergonha”, no mês de agosto e que dividiu a Alemanha em dois países. Ao final daquele mesmo ano de 1961, com diploma do curso primário nas mãos conquistado no então “Grupo Escola de São Francisco”, onde hoje funciona a Secretaria de Promoção Social, imaginei ter encerrado o meu aprendizado nos bancos escolares. Alfabetizado, sonhava continuar trabalhando durante o dia no ofício nada salubre de empalhador de cadeiras, na então fábrica de cadeiras dos Irmãos Morandin, cumprindo a jornada de segunda à sábado de semana inglesa(todos trabalhavam até o meio dia de sábado), à noite brincar de salva pega com os amigos, jogar peladas nos sábados e futebol aos domingos, com direito a usar fardamento e tudo, defendendo as cores(sem cores) do time da “Vila Sicopan”, deslocando-se nas carrocerias de caminhões(que perigo!!!) até as fazendas da região. Era a vida de um menino pobre de periferia que um dia havia sonhado viver e que me fazia feliz. Na época, não era preciso muito para ser feliz. A grande maioria dos meus amigos de infância abraçou essa conduta e nenhum deles chegou a cursar o ginásio(atual ensino fundamental). Foi aí que meu pai, então um humilde carroceiro, apesar da sua simplicidade e ignorância, teve uma atitude nobre. Diante da minha insistente recusa em continuar na escola, aplicou-me, por uma única vez, um corretivo, suficiente para provocar soluços, mas, certamente a mais importante lição de vida que um ser humano possa receber. Àquelas sábias e oportunas palmadas devo o meu crescimento como ser humano e minha realização profissional. Esse fato foi trazido à lembrança ao ler uma carta escrita pelo homem que viria a ser um dos mais notáveis e importantes presidentes dos Estados Unidos, na verdade, o 16ª presidente que governou no período de 1861 a 1865 e que foi endereçada ao professor do seu filho. Eis o primor da correspondência escrita há mais de 180 anos. — “Caro professor, ele terá de aprender que nem todos os homens são justos, nem todos são verdadeiros, mas por favor diga-lhe que, para cada vilão há um herói, que para cada egoísta, há também um líder dedicado, ensine-lhe por favor que para cada inimigo haverá também um amigo, ensine-lhe que mais vale uma moeda ganha que uma moeda encontrada, ensine-o a perder, mas também a saber gozar da vitória, afaste-o da inveja e dê-lhe a conhecer a alegria profunda do sorriso silencioso, faça-o maravilhar-se com os livros, mas deixe-o também perder-se com os pássaros no céu, as flores no campo, os montes e os vales. Nas brincadeiras com os amigos, explique-lhe que a derrota honrosa vale mais que a vitória vergonhosa, ensine-o a acreditar em si, mesmo se sozinho contra todos. Ensine-o a ser gentil com os gentis e duro com os duros, ensine-o a nunca entrar no comboio simplesmente porque os outros também entraram. Ensine-o a ouvir todos, mas, na hora da verdade, a decidir sozinho, ensine-o a rir quando estiver triste e explique-lhe que por vezes os homens também choram. Ensine-o a ignorar as multidões que reclamam sangue e a lutar só contra todos, se ele achar que tem razão. Trate-o bem, mas não o mime, pois só o teste do fogo faz o verdadeiro aço, deixe-o ter a coragem de ser impaciente e a paciência de ser corajoso. Transmita-lhe uma fé sublime no Criador e fé também em si, pois só assim poderá ter fé nos homens. Eu sei que estou pedindo muito, mas veja o que pode fazer, caro professor. Abraham Lincoln, 1830.” Do mesmo autor colacionamos algumas sábias frases que não poderiam faltar neste artigo: –“Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder. — Ninguém é suficientemente competente para governar outra pessoa sem o seu consentimento. — Podeis enganar toda a gente durante um certo tempo; podeis mesmo enganar algumas pessoas todo o tempo; mas não vos será possível enganar sempre toda a gente.” — Os tempos são outros, mas os ensinamentos continuam sempre atuais.
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