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MARQUISE COMO TETO


  16 de junho de 2021

MARQUISE COMO TETO

                                                                 José Carlos Buch

Este artigo foi publicado originariamente em maio de 2008, portanto, há 13 anos. As imagens nele descritas permanecem vivas na medida em que se revelam atuais nesse momento de pandemia. Vamos ao artigo: –  Na década cinquenta o majestoso edifício de quatorze andares ostentando um jardim natural na cobertura,  bem no centro velho de São Paulo, concentrava a diretoria e o staff  administrativo do grupo Matarazzo que,  segundo alguns historiadores, reunia mais empresas do que todos os dias de um ano do calendário Gregoriano. Com o tempo o grupo se esfacelou e a Prefeitura de São Paulo acabou ficando com o prédio por conta de dívidas que o grupo deixou de pagar e que se acumularam em mais de uma década. Hoje é o Paço Municipal da quarta maior cidade do mundo em número de habitantes. Pela entrada principal transitam, durante o dia,  desde o prefeito, secretários, servidores públicos municipais  e principalmente os contribuintes. Ao final do expediente quando as portas se fecham e a noite cai, a entrada serve de abrigo aos moradores de rua, catadores de papel, desempregados e andarilhos que enriquecem as estatísticas dos brasileiros abaixo da linha de pobreza. Fechou o sinal bem em frente ao prédio e o ônibus fretado pela Magna Via com grande parte dos quarenta e dois turistas de Catanduva e Pindorama que faziam o city tour pelo centro velho, parte do programa que culminaria com  espetáculo(!!!)  “Circu Di Soleil”,  ouviam a eficiente guia Laura Silvia, uma portuguesa do Porto que conhece São Paulo como poucos,  descrever sobre a história do prédio, um projeto do italiano Marcelo Piacentini, de 1.937,  em estilo fascista. Na manhã fria daquele domingo, de 04 de maio, um casal acabara de acordar sob a marquise do Paço Municipal envoltos em um cobertor surrado,  tendo como colchão uns retalhos de papelão. Primeiro o homem, aparentando não mais do que trinta e cinco anos, razoavelmente trajado, afastou-se poucos metros do grupo e enxaguou o rosto e os cabelos com a água que fez jorrar de uma garrafa tipo “pet”. Em seguida foi a vez de sua companheira. Mais jovem e igualmente, razoavelmente trajada, repetiu o gesto, porém, dando um cuidado maior ao cabelo que, emaranhado exigiu inúmeras escovadas. Quem do ônibus observou essa cena, provavelmente ficou perplexo ao ver um casal ainda jovem sujeitando-se a essa condição subumana  tão deprimente. O que os levou a passar a  noite fria, em companhia de tantos outros párias,  sob a marquise do prédio que é a sede da prefeitura de São Paulo, certamente, nunca descobriremos. No entanto,  esse casal certamente tem uma história que pode não ser muito diferente da história de seus companheiros de calçada, mas que provavelmente tem uma particularidade. Um dia eles tiveram uma vida digna e esperam a oportunidade de  voltar a tê-la, tal como a sorte que norteou o prédio dos Matarazzo que teve o seu glamour,  chegou a ficar abandonado e depredado e hoje é destaque como ponto turístico do centro velho de São Paulo. De todo o modo, é preciso que presenciemos cenas como essa para que possamos dar um pouco de valor ao conforto e à qualidade de vida que Deus nos proporciona.                      

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