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MEIO SÉCULO ATRÁS


  17 de julho de 2014

MEIO SÉCULO ATRÁS

                                                                  José Carlos Buch

Já nos acostumamos a ver crianças(meus netos inclusive), adolescentes, jovens e adultos, nos restaurantes, filas de bancos, nas escadas rolantes e, pasmem, até mesmo dirigindo(que risco!),  plugados no celular ou em tablets, com dedos ágeis, olhos fixos e atentos,  teclando mensagens, cifradas e abreviadas,  que o mundo resolveu chamar de “a era da comunicação virtual”. Chegam ao absurdo de,  às vezes,  sentados na mesma mesa de restaurante trocarem mensagens entre si, ignorando que um está ao alcance do braço do outro. Seguramente essa geração pode estar antenada com as ferramentas da internet e redes sociais do tipo facebook, facetime, instagram, whatsApp, twitter, etc,  mas, com raras exceções,  cultivando a cultura da ignorância, enriquecendo o espírito com futilidades, se alimentando de informações do google – nem sempre confiáveis – e, o que é pior,  jogando fora a oportunidade de tirar melhor proveito dessa tecnologia e principalmente deixando de curtir essa  fase da vida que é única. Os nascidos a partir da metade do século passado e  até os anos setenta não desfrutaram dessa tecnologia, nem tampouco do celular. Quando muito, privilégio das classes média e alta, contavam com telefone fixo de fácil memorização, pois os números não iam além de 6 dígitos e, detalhe, os aparelhos eram de disco,  daí surgindo no “Aurélio”  o verbo discar. Para fazer interurbano era preciso a intermediação  de uma telefonista. A então TELESP abrigava enormes mesas onde as telefonistas se encarregavam de estabelecer a conexão. Às vezes, a demora era de duas, quatro, cinco e até seis horas, sem contar a dificuldade de contatar a telefonista.  Eram verdadeiros call centers dos tempos da carochinha.  Cinto de segurança, nem os carrões americanos, únicos hidramáticos,  dispunham desse acessório,  hoje,  requisito básico de segurança. Rádios FM,  eram pouquíssimas,  e os apresentadores não eram os tagarelas de hoje que atropeladamente anunciam baladas, pagodes, funk e, as de linha sertaneja – aquelas ditas sertanejos universitários que nunca se formam – sem falar  pastores anunciando o Salvador e convidando  o povo a ir frequentar o culto dos milagre$(!). Naquele período áureo ouvia-se música de qualidade nas rádios: jovem guarda, Beatles, MPB,  bossa nova, samba, músicas italianas, francesas, americanas de qualidade (alguns lixos também), muitas delas ainda executadas nos dias de hoje, consideradas clássicas.  A televisão, apesar de pobre em recursos e em preto e branco (a primeira transmissão a cores somente se deu em 19 de fevereiro de 1972), sobrava em talento e criatividade, tanto é fato que muitas novelas daquela época estão voltando em forma de remakes. O cinema produzia pérolas, muitos filmes  arrebatadores de mais de cinco estatuetas do Oscar: Dr. Jivago, Bonequinha de Luxo, Uma odisséia no espaço, Poderoso Chefão, Taxi  Driver, e tantos outros.  O futebol, menos em táticas e  preparo físico e,  mais em talento, amor à camisa e raça, produzia craques à profusão a ponto do treinador da seleção brasileira dispor de material humano para montar duas ou três seleções e nenhuma delas certamente seria humilhada tomando sete gols. Nossos carros eram carroças em verdade, mas nada diferente do que rodava no resto do mundo. O trem transportava matéria prima, material de construção, mercadorias e notadamente café, que era o principal produto de exportação do país.  Mas,  transportava também  gente e era bucólico viajar contemplando a natureza que desfilava colorida pelas janelas dos vagões de passageiros. A escola pública era sinônimo de excelência e os professores valorizados e respeitados e nenhuma criança terminava o primário(atual ensino básico), sem estar alfabetizada,  sabendo ler e escrever legível e muito bem. Brincava-se de caçar passarinho, de pega e salva, de bolinha de gude na calçada e rodar pião no quintal e em época de figurinha jogava-se “bafo”. Também abusava-se de  brincar na enxurrada, nadar no poção e até mesmo de carrinho de rolimã na descida das ruas. Não existia dengue e a doença que mais matava “de repente” ameaçava os menos avisados, além de paralisia infantil que, por falta da vacina, não poupava ninguém. Lia-se muito gibis(revistas em quadrinhos) e,  muitos heróis daquela época  ainda povoam a imaginação das crianças de hoje:  Capitão América, Homem Aranha, Batman,  Superman, etc. Outros sumiram: Tarzan, Cavaleiro Negro,  Gim das Selvas,  Durango Kid,  que eram também vistos em forma de seriado no cinema. Naquele tempo nossos governantes eram mais sérios, as pessoas não tinham tanta preocupação e a comunicação,  além do telefone com as limitações mencionadas, não ia além de cartas,  enviadas pelo correio(que demoravam a chegar), telegramas e no final da década de setenta,  com a modernidade do telex, este de uso praticamente por empresas. É bem verdade que não se sonhava com celular, internet e tamanha tecnologia, mas, conversava-se mais, curtia-se mais a vida e o tempo demorava a passar. Bons tempos aqueles…                             

Este artigo é dedicado aos que nasceram nas décadas de cinquenta e sessenta, época em que o mundo conheceu uma verdadeira revolução cultural e o  Brasil experimentou longo período de ditadura.      

                                                        advogado tributário

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