MOACIR – MEIO SÉCULO DE TRABALHO
MOACIR – MEIO SÉCULO DE TRABALHO
Certamente uma sexta feira, exatos um mês antes do início do carnaval, não seria o melhor dia para começar num novo emprego. Contudo, não foi isso o que ocorreu com o personagem que ilustra essa história.
Com apenas 13 anos, alto, empertigado, de olhos castanhos ávidos e fascinados por descobrir um mundo novo, já de voz grave e determinada, porém tímido, egresso da vizinha Taiaçu, começava o dia como office boy e, a partir daí, a construção de uma carreira de 50 anos.
A Tipografia São Domingos, à época, era uma modesta gráfica no então limitado barracão, aos fundos do número 1.104 da Rua Minas Gerais, fundada pelos irmãos Boso(José Antonio, Pedro, Antonio, Octacílio e Tereza).
Na época eram poucos os funcionários, mas os prelos não eram suficientes para abrigar tantas chapas com linotipos e clichês que movimentavam e azeitavam as máquinas e davam formas aos impressos, talonários, livros fiscais e livros de cartórios que levavam o nome grafado da São Domingos de Catanduva, aos mais distantes rincões do nosso país.
A qualidade do serviço e a rapidez no atendimento nortearam um crescimento vertiginoso e, em pouco tempo, a Tipografia não tinha mais como se expandir no espaço da Rua Minas Gerais que já tinha sido ampliado no seu limite. Assim, a mudança para o Parque Industrial tornou-se inevitável.
Junto com esse crescimento e mudança, muitos funcionários também cresceram e mudaram para melhor. O então tímido Office boy já deixara de ser auxiliar de contabilidade e agora, após se formar técnico em contabilidade, era o contador da empresa e tinha concluído também o curso superior de Economia.
À medida que o negócio se expandia e os barracões mais e mais exigiam ampliação para abrigar novas e moderníssimas máquinas, compradas na Alemanha, a empresa ia perdendo seus fundadores homens que, um a um, eram chamados para um novo projeto no céu cuidando da gráfica do Senhor.
Sem deixar os estudos que o levou a concluir outras três faculdades(Administração de Empresas, Direito e Ciências Contábeis), foi conquistando promoções e espaço na empresa que, nessa altura, deixava de ser uma simples tipografia para se tornar uma indústria gráfica respeitada e reconhecida, voltada principalmente para a produção de cadernos, inclusive para exportação.
Ao completar 37 anos de casa, em 1999, com a morte do Aimar Newton Boso que substituíra Pedro Boso(prematuramente falecido dois anos antes), tornou-se Diretor Presidente, fazendo da empresa uma das três maiores do Brasil no ramo de cadernos.
Na construção desse sonho, teve sempre ao seu lado a esposa Cleide, com quem se casou em junho do ano 1978 e, juntos fizeram dos filhos Fábio Luis e Valéria, cidadãos do mundo e profissionais realizados, já que ambos vivem no exterior. Essa é a trajetória do Moacir Jesus Bérgamo, menino pobre, que de Office boy galgou o cargo máximo na empresa que ajudou a construir, a única que a sua Carteira de Trabalho conhece e, onde há 50 anos vem escrevendo linha por linha o seu caderno de história e de sucesso, e que começou numa sexta feira, dia 16 de fevereiro de 1962.
Seguramente, poucos sãos os profissionais no Brasil que podem se orgulhar de permanecer meio século numa mesma empresa e construir uma carreira tão notável e invejável.
Nesses 18.262 dias de vida profissional na única empresa, é possível dizer que o Moacir acumulou experiência e informações que lhe permitem conhecer cada detalhe do chão da indústria, passando por cada máquina, chegando ao mais humilde funcionário, indo até os meandros e segredos da administração, da área comercial, inclusive, mercado exterior.
Pertinaz, obstinado e não muito preocupado com os papéis que povoam a sua mesa de trabalho é, ao mesmo tempo, despojado de vaidades e de formalidades e, nunca valeu-se do cargo para conquistar o respeito e liderança, já que lhe são próprios e brotaram naturalmente, sem qualquer imposição.
O publicitário Nizan Guanaes certamente se inspirou em alguém como o Moacir para escrever “Você foi criado, para construir pirâmides e versos, descobrir continentes e mundos, e caminhar sempre, com um saco de interrogações na mão e uma caixa de possibilidades na outra. E, só o trabalho lhe leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão. E isso se chama sucesso”.
Para àqueles que ainda têm superstição de iniciar um empreendimento ou começar num novo emprego numa sexta feira de fevereiro, fica o exemplo de sucesso do Moacir, cuja história se confunde com a própria história da empresa que o abrigou e lhe proporcionou oportunidade, quando ainda adolescente.