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MULHER, BENDITA SEJAIS


  3 de março de 2014

MULHER, BENDITA SEJAIS

                                                        José Carlos Buch

Bendita sejais:

A mulher que manejava o sarilho e  a caçamba para tirar água do poço;

Que preparava a bacia com água morna para dar banho nas crianças;

Que lavava a roupa em pequenos riachos(não poluídos) ou em  tanques de alvenaria,  embaixo de puxadinhos;

Que torrava o café em torrador à lenha, para ser moído no moinho mimoso, o mesmo que servia também para moer pimenta do reino;

Que usava o coador de pano preso num suporte de madeira para coar o café diretamente ao bule, em ágata esmaltado ou de alumínio, às vezes adoçado com rapadura;

Que campeava galhos no campo para picá-los no machado e transformá-los em lenha para o fogão;

Que lidava com o capado obtendo, além de inúmeros subprodutos, a gordura e os pedaços de carne que eram conservados em latas de 20 litros envoltos na mesma gordura;

Que mantinha sobre o fogão à lenha,  um varal com toucinhos e a linguiça feita com a tripa do próprio porco;

Que cozinhava em panela de ferro,  com  gordura de porco,  em fogão à lenha e ninguém sabia o que era colesterol ou triglicérides, porque praticamente não existiam;

Que dividia parte da carne do capado com os vizinhos e sentia prazer em fazer isso;

Que usava soda e as vísceras não aproveitáveis do porco para fazer sabão em tachos à lenha;

Que matava pessoalmente o frango criado no quintal para prepará-lo com polenta(sem igual!);

Que preparava a massa e fazia pão de casa de casca grossa, rosca doce,  bolachinhas e biscoitos crocantes de polvilho,  no forno à lenha (irresistíveis); 

Que aproveitava o pão velho pra fazer rabanada ou pudim de pão(que delícia!);

Que preparava a massa com farinha de trigo Anaconda, banha de porco e ovos, e a amaciava no cilindro manual para ser estendida sobre a mesa e, assim,  fazer a  tradicional macarronada do domingo;

Que socava o milho no pilão até transformá-lo em fubá;

Que não deixava faltar o arroz, o feijão e uma mistura no almoço e sopa de feijão com pão  no jantar, principalmente para as crianças;

Que se sentia feliz em poder ver, aos domingos,  as crianças saboreando no bico da garrafa de tampinha furada, o guaraná caçulinha;   

Que comprava o leite in natura em garrafas de um litro do qual tirava a manteiga em abundância;

Que comprava os produtos básicos na venda e,  quando não tinha dinheiro,  marcava na caderneta;

Que engomava de forma impecável,  as camisas e os vestidos e usava ferro à brasa para passar a roupa;

Que comprava tecidos e até o chamado “arranca toco”(próprio para o serviço da roça),  na Casas Pernambucanas ou Casas Buri;

Que costurava as roupas para a família e as remendava,  quando necessário;

Que cuidava das criações, da casa e da família;

Que invariavelmente usava um lenço branco na cabeça para prender o cabelo;

Que forçava os filhos a tomar sal amargo(beco!) uma vez por ano para limpar o sangue;

Que usava losna amassada(horrível) para o estomago, mal estar digestivo e combater a verminose;

Que usava cânfora com erva de Santa Maria para curar as feridas;

Que não deixava faltar uma moita de erva cidreira e um canteirinho de hortelã no quintal;

Que fazia escalda pés para aliviar as dores e o cansaço nas pernas;    

Que não sabia o que era sabão em pó, detergente ou desinfetante e,  mesmo que soubesse, não teria dinheiro pra comprar;

Que não usava óculos de sol e nem sabia o que era protetor solar;

Que protegia os filhos embaixo da mesa da cozinha e queimava palma de Santa Barbara, quando dos temporais assustadores;

Que acreditava em simpatias e em benzimentos: espinhela caída, mau olhado, lombriga,  quebranto, mal jeito, cobreiro,  etc.;   

Que obrigava os filhos a frequentar a escola, mas não tinha tempo e nem conhecimentos para ajudá-los nas tarefas de casa;

Que usava cera “Parquetina” para deixar o chão brilhando;

Que usava areia de rio para dar brilho ao alumínio;

Que usava lamparina a querosene ou lampião a gás  para iluminar a casa;

Que à noite, enquanto passava roupa,  gostava de ouvir  o programa de rádio do Moraes Sarmento, apesar do som,  além de  precário,  ser quase inaudível em face às interferências;

Que não sabia o que era pré-natal e dava à luz em casa, cujos filhos,  quase sempre sadios e perfeitos,  nasciam das mãos de parteiras;

Que amamentava e fazia dieta à base de canja de galinha por quarenta dias;

Que usava um pente virgem embaixo do chuveiro e penteava o seio para descer o leite;

Que enfaixava os bebês até estes atingirem três meses de vida(coitados!);

Que acordava antes do sol nascer e era a última da família a se recolher;

Que ia à missa aos domingos com os filhos e os obrigava a frequentar o catecismo;

Que oferecia prendas para a quermesse da igreja;

Que chorava a morte de causa “de repente”  de  parentes, vizinhos e conhecidos; 

Que apesar da vida, sofrível, sem conforto, sem dinheiro e sem direito à lazer, ainda assim conseguia ser feliz.

Bendita Sejais, as mulheres que viveram esse tempo, principalmente nossas mães e avós.

Bendita Sejais, TODAS AS MULHERES pelo seu dia.

Nota: Este artigo foi inspirado na minha mãe Julia Fabricio Buch, in memoriam e, a ela é dedicado.

                                                        advogado tributário

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