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NO TEMPO DAS JARDINEIRAS – PARTE I


  10 de novembro de 2011

NO TEMPO DAS JARDINEIRAS – PARTE I

                                                                  José Carlos Buch

Por volta de 1960, Catanduva contava com pouco menos de 50 mil habitantes. Na política, Jânio Quadros e Ademar de Barros eram as expressões maiores no cenário de São Paulo e se alternavam no poder. Em Catanduva o poder se revezava entre José Antonio Borelli e Antonio Stocco, e os vereadores serviam a cidade por idealismo, já que não eram remunerados(que bom seria!).  As pessoas se conheciam umas às outras e a televisão ainda não enclausurava nem tampouco confinava as pessoas que, à noitinha, cultivavam o hábito de tomar a fresca acomodadas descompromissadamente em cadeiras postadas nas calçadas, em gostosas conversas com os vizinhos. Obesidade mórbida só existia no dicionário, e banha de porco-que fez fortuna ao Grupo Matarazzo-, era largamente utilizada no cozimento dos alimentos. A doença que mais matava era também conhecida por “morte de repente” que,  amedrontava e ao mesmo tempo retratava a ignorância das pessoas.  Todas as crianças não tinham como escapar da catapora, sarampo, varicela e caxumba e a marca de vacina no braço só veio muito tempo depois. Para combater a tuberculose todos tinham que ingerir a vacina do “BCG”, que tinha gosto de laranja podre e era sofrível de engolir.  As pessoas acreditavam mais em benzimentos, no poder da erva Santa Maria para os ferimentos, no escalda pé para aliviar as dores e o cansaço das pernas e na compressa de água quente para combater a dor muscular e o inchaço. Losna(que ruim, beco!!!) era o remédio caseiro Em cache – Similares

empregado para eliminar vermes, combater as cólicas e diarréias das crianças, sem contar do purgante sal amargo(credo, que horrível!!!) que era socado goela abaixo  das crianças, ao menos uma vez ao ano. “Comigo ninguém pode”, “arruda” e “palma de São Jorge” eram plantas que não podiam faltar no quintal das casas, próprias para espantar a inveja e o mal olhado,  que já existia naquele tempo. Dor nas costas era sinal de “espinhela caída” (lembram disso?), que carecia de no mínimo três benzimentos para sarar. As professoras impunham respeito e eram invejadas pelos alunos, que eram reprovados sem contemplação se não alcançassem a nota mínima e,  só no ginásio tinha a segunda época como única colher de chá.  Caixeiro viajante era uma profissão rentável e os sítios e fazendas eram visitados pelos “mascates”, na verdade, emigrantes Sírio Libaneses que, com suas grandes valises cheias de roupas, bugigangas e novidades,  encantavam os olhos e  faziam a moda do povo da roça,  vendendo  à prazo e prometendo sempre — “eu vazer um bom negósio pra você, bem baratinho”–. Muitos desses ambulantes se estabeleceram na cidade, principalmente no mercado municipal e na Rua Brasil e,  tantos outros, após amealharem pequena fortuna retornaram ao seu país de origem, dando origem a  expressão “balanço do turco”. Nas porteiras das estradas de terra das fazendas e sítios, os homens de marketing da “Casas Buri” e “Casas Pernambucanas” disputavam espaço e o tecido de algodão, forte e resistente, conhecido como  “arranca-toco” era o mais utilizado na confecção da roupa de trabalho do pessoal da roça. Os mascates, na verdade “sacoleiros” da época,  costumavam visitar as colônias das fazendas em lombo de cavalos, ou conduzindo os frágeis, mas valentes Fordinhos 29 ou Ford “Pé de Bode” ou,  mesmo utilizando as jardineiras, que se caracterizavam por ter o motor bastante barulhento na frente(tipo cofrinho) e  porta única,  do lado oposto ao motorista. (continua numa das próximas edições). 

                                                        advogado tributário

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