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O CIRCO DO PARPITOSO


  20 de novembro de 2012

O CIRCO DO PARPITOSO  

                                                                 José Carlos Buch

No início da década de sessenta, a televisão era atração dos bares da periferia da cidade e chegava somente nas casas de maior poder aquisitivo. O sinal era péssimo e a imagem insistia em se deslocar na vertical,  ora para baixo, ora para cima. A imagem em preto em branco entrava no ar a partir do meio dia e a líder de audiência era a TV Tupi, canal 4, ficando o segundo lugar disputado entre a TV Record, canal 7 e TV Excelsior, canal 9. A telenovela ganhou espaço no horário nobre somente em 1964, cabendo à TV Tupi o pioneirismo com a novela “Sua vida me pertence”, inaugurando o horário das 20 hs. As opções de entretenimento eram poucas, praticamente restritas a parques de diversão, com destaque ao serviço de auto falantes, que anunciava música de alguém oferecendo para outro alguém, como prova de muito amor, um ou outro circo rodeio e circos teatros mambembes. Nessa época o circo do Parpitoso chegou aos altos do São Francisco e se instalou  na quadra acima onde hoje funciona o Posto Bugatti, na Rua XV de Novembro. Era um circo pequeno e pobre com um cast reduzido, mas em todas as noites havia espetáculo. Certa feita, Parpitoso que,  além de dono do circo era também o apresentador, abriu o espetáculo com uma voz embargada dizendo que a vida de artista de circo era muita dura e cruel, pois acabara de deixar seu pai na mesa e,  mesmo assim estava cumprindo o seu dever profissional porque o espetáculo não podia parar. É preciso lembrar que naquela época as pessoas que morriam eram veladas em casa e o caixão, normalmente, colocado sobre a mesa da sala. Diante da consternação da pequena platéia, arrematou — Não se preocupem, pois deixei meu pai à mesa, apenas jantando! —. Piada mórbida, mas o fato realmente aconteceu.  Durante a semana, além dos tradicionais números de acrobacias, malabarismos e mágicas, havia a apresentação da cantora  Sra. Marina Escobar, mulher do Parpitoso, com um ou dois números musicais muito chatos e que a molecada detestava. A filha dos donos, Sandra, uma  jovem bonita, morena de cabelos longos e negros,  também se apresentava, salvo engano, com um número de equilíbrio – tábua sobre o rolo,  além de outras participações. Ao que consta, a Sandra acabou se casando com um catanduvense e fixando residência no mesmo bairro do São Francisco e, é até possível que ainda resida na cidade. Em determinados  dias da semana o circo apresentava peças ou dramas, como eram anunciados:  “O mundo não me quer”, “Filhos de ninguém”,  “Sansão e Dalila”, dente outros, encenados pelo pessoal da casa, com direito a tiros de espoletas e muita dramatização. Em algumas oportunidades, principalmente nos finais de semana,   o espaço era reservado para shows de consagradas duplas sertanejas da época:  Zico e Zeca, Lio e Léo, Alvarenga e Ranchinho, Pedro Bento e Zé da Estrada, Zilo e Zalo, Mococa e Moraci, Zé Fortuna (grande compositor e autor de alguns dramas) e Pitangueiras,  o trio Luizinho, Limeira  e Zezinha e outros. Esses artistas se apresentavam acompanhados dos instrumentos viola e violão e, nada mais. Tudo muito pobre e sem produção alguma.   A dupla Tonico e Tinoco nunca se apresentou, pois o cachê era muito elevado para os padrões do circo. Volta e meia o circo apresentava o show do Lambari, proprietário do circo do mesmo nome que também visitava muito a cidade.  Lambari era um humorista meio gordo, que aparentava ser banguela e que usava uma peruca loira com uma franjinha, tudo muito sem graça. Até mesmo um show com Chico Fumaça, uma espécie sósia do Mazzaropi(as filas para assistir os filmes do original dobravam o quarteirão), por sinal, muito bom,  era de vez em quando apresentado. O ingresso, apesar de barato, estava muito além  do poder aquisitivo da molecada do bairro. Assim, a alternativa era tentar “varar”, que consistia em aproveitar momento de descuido dos seguranças(sempre meio bêbados), atravessar uma cerca de arame,  entrar por debaixo da lona e ganhar a arquibancada de tábua. Quanto mais importante(!) o espetáculo, maior a dificuldade, considerando que mais seguranças vigiavam a lona e a cerca. O circo do Parpitoso provavelmente não mais existe, mas conserva a impagável imagem da  sua lona surrada, da variedade dos números artísticos  e do fascínio que conseguiu tatuar de alegria a fantasia d´ alma e permanecer  na lembrança dos que o conheceram e,  principalmente dos que costumavam varar a cerca (eram muitos),  para não pagar ingresso.            

                                                                 advogado tributário

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