O PESO E O PREÇO DE UMA MEDALHA DE OURO
O PESO E O PREÇO DE UMA MEDALHA DE OURO
José Carlos Buch
A sexta maior economia do mundo e o quinto maior país em extensão territorial e população, precisou de 92 anos e participar de 21 olimpíadas para atingir o número de 100 medalhas acumuladas. As olimpíadas da era moderna começaram em 1.920 e, só não foram realizadas em 1940 e 1944 em decorrência da segunda guerra mundial e o Brasil não participou somente dos jogos de 1928, realizados em Amsterdã. Nos jogos de 1932(Los Angeles) e 1936(Berlim), não conquistou nenhuma medalha e 15 foi o número máximo de premiações conquistadas em Atlanta(1996) e Pequim(2008). Nos jogos pan-americanos nossa briga maior é superar a nossa principal rival Argentina, quando deveríamos competir em pé de igualdade com EUA e Canadá e deixar no chinelo os demais irmãos latinos, México, inclusive. Tomando-se o número de medalhas conquistadas e levando-se em conta o número de olimpíadas disputadas pelo país até agora – 21, chega-se à média de menos de cinco medalhas por olimpíada o que, convenhamos, é ridículo e humilhante diante da importância do país no cenário mundial e do dinheiro investido, nada mais, nada menos do que R$2.617 bilhões que é o orçamento do Ministério dos Esportes para este ano. No quadro atual de medalhas, estamos atrás de países de pouca ou sem nenhuma expressão econômica ou relevância mundial, como: Casaquistão, Ucrânia, África do Sul, Irã, Belarus, Jamaica e a pequena ilha de Cuba. Pode? No sábado, nossa seleção de futebol com atletas que valem peso de ouro, caso do Lucas negociado com PSG da França, por R$108 milhões e Neyar, de valor incalculável, tentará trazer para o país a primeira medalha de ouro nesse esporte. Não é preciso ser nenhum economista para observar que essa medalha terá um custo, no mínimo, trinta vezes superior à medalha conquistada pelo até então ilustre desconhecido atleta Arthur Zanetti na argola. Explica-se. Enquanto a seleção exige uma equipe de no mínimo 30 pessoas, entre comissão técnica e atletas, fora os cartolas que viajam de classe executiva com direito à acompanhante, a equipe do Arthur Zanetti se resume apenas nele e seu técnico, lembrando que este deve ganhar muito menos do que o roupeiro da seleção de futebol. Contudo, para o quadro de medalhas o peso é o mesmo, isto é, para efeito de estatística, a medalha da seleção com o seu custo exorbitante e exarcebado tem o mesmo valor da medalha do Arthur Zanetti, cujo investimento é insignificante. Outro detalhe interessante é que o atleta que consegue a façanha de uma medalha, notadamente de ouro, tem a sua imagem divulgada na mídia como atleta “Sadia”, “BB”, “Caixa”, etc, quando na realidade não houve patrocínio algum na formação e preparação, e a conquista deve-se exclusivamente ao mérito do atleta, já que o apoio recebido, quando muito, não passa da passagem de avião para competir. Mas voltando à centésima medalha acumulada pelo país em 92 anos, além de ser uma marca humilhante, na realidade não representa nem de longe o potencial que aqui existe. Basta lembrar que para atingir esse número os EUA e China precisam de apenas uma olimpíada. Rússia, Alemanha, França e Grã-Bretanha não mais do que apenas duas. Então, é de se perguntar, onde está o erro? O exemplo do homem das argolas como está sendo chamado o nosso atleta olímpico responde a essa pergunta. Somos bons em esportes coletivos(futebol, vôlei) e deixamos a desejar muito em esporte individual. Logo, se o assunto é melhorar nossa posição no quadro de medalhas, porque não investir pesado em nossos judocas, boxeadores, ginastas, nadadores, tenistas de mesas, enfim, atletas que competem individualmente, buscando no mercado o melhor em equipamentos, profissionais técnicos e técnicas, como fazia Cuba até recentemente, antes das vacas magras. A receita é simples, só que os nossos dirigentes ainda não se deram conta ou preferem fazer vistas grossas, ignorando que as onze medalhas que os nossos atletas do futebol poderão pendurar no pescoço neste sábado, no quadro de medalhas, que é que conta, tem o mesmo peso e valor da medalha do ginasta das argolas, cujo custo é irrisório se comparado com o investimento que exige a seleção de futebol. Conclusão: quando se trata de olimpíadas, investir no individual traz mais resultado do que no coletivo – Jamaica que o diga. Essa é a regra!
José Carlos Buch
advogado tributário
www.buchadvocacia.com.br