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O SUS(TO)


  9 de agosto de 2014

O SUS(TO)

                                                                  José Carlos Buch

Dona Valdirene(nome foi alterado), uma senhora com mais de setenta anos, convive com diabetes e, por conta da doença, volta e meia tem que ser internada. No dia 27 de outubro de 2013, em face agravamento da doença,  precisou ser internada no Hospital “Emilio Carlos”, o mesmo em que a AEC –Associação de Assistência ao Hospital “Emilio Carlos”, que é  uma associação constituída de líderes e voluntários da cidade,  dará início  no dia 1º setembro à reforma total da ala C2 PAR e  permitirá que outros 22 pacientes possam ser internados confortavelmente. No período de internação, que durou 37 dias(a alta médica se deu em 03/12/2013), D. Valdirene teve que amputar o dedão do pé(hálux) e ser submetida a 10 sessões de cama hiperbáricas.  Passados três meses da alta médica, D. Valdirene levou um susto ao receber uma cartinha do SUS à qual informava que, pelos 37 dias de internação, este havia pago ao hospital a importância de R$634,00 e que,  por conta disso, ela deveria responder algumas perguntas sobre a qualidade do atendimento recebido durante o período de internação.  Superada a perplexidade, D. Valdirene cumpriu o seu dever de cidadã e encaminhou às respostas ao governo. Tomando-se o valor pago ao Hospital “Emílio Carlos”,  de R$634,00 e dividido pelo número de dias da internação(37) chega-se ao custo dia de míseros R$17,14, que foi o valor da diária despendido  pelo SUS para o hospital fornecer pensão completa(café da manhã, lanche da manhã, almoço, café da tarde e jantar, inclusive para uma acompanhante), medicamentos, exames, amputação de um hálux, acompanhamento médico e de enfermagem, além de toda a assistência à paciente. Cá pra nós, o Governo deveria ter vergonha em fazer feedback do serviço prestado pelo hospital pagando essa miséria, mas não é o acontece. Não é preciso ser nenhum expert para concluir que o SUS faz de conta que paga pela saúde dos brasileiros,  e os hospitais e santas casas, a grande maioria agonizando na UTI, não podem fazer de conta que prestam um serviço, pois lidam  com a saúde  e com vidas humanas e, assim,  sobrevivem sabe Deus como! Detalhe: no caso da D.  Valdirene, as 10 sessões de câmara hiperbárica não foram pagas pelo  SUS que não cobre esse tipo de procedimento e teve que ser  bancado pelo próprio hospital. Fala-se muito da qualidade de atendimento nos prontos socorros, mas é preciso lembrar que os valores pagos pelo SUS são humilhantes e degradantes, fazendo com que  hospitais e laboratórios, prestem  serviços de qualidade  mediante pagamento que sequer cobre o custo dos materiais empregados. De se conferir alguns exemplos: hemograma R$4,11, urina tipo I R$3,70, fezes R$1,65, ultrassonografia de abdômen total R$37,95, raio X de mão R$6,30, raio X de perna R$8,94, ressonância magnética de crânio R$268,75, tomografia computadorizada R$86,75, eletrocardiograma R$5,15, espirometria  R$6,36 e audiometria R$25,00(em média). Detalhe: O último reajuste da tabela do SUS ocorreu em 2004, quando os procedimentos de baixa e média complexidade foram reajustados em 26%. De lá para cá estes valores praticamente não sofreram qualquer reajuste.  Assim, dizer que a situação da saúde no país já perpassou o limite do tolerável é chover no banhado. Dados da Secretaria da saúde do município dão conta de que a cidade recebe R$1,19 por dia/habitante do Ministério da Saúde  para atender toda a população de Catanduva. Esse investimento corresponde a R$434,00/ano por habitante,  enquanto o gasto público do país em saúde pública corresponde, em média, a R$1.126,00. O valor recebido é tão ultrajante e medíocre que, por si só explica o porque das pessoas morrerem por falta de atendimento e,  mais do que isso, as razões da situação deletéria, degradada  e debilitada dos nossos hospitais. Esse caos levou a Santa Casa de Saúde de São Paulo, o maior hospital público do país, a fechar as suas portas só reabrindo após o governo do estado fazer um aporte emergencial de R$3 milhões, o  que representa pouco mais de 5% da dívida que alcança R$50 milhões,  só com fornecedores. Também é preciso lembrar que em nosso país se investe em saúde, em média menos de 30% do que investem os países desenvolvidos e, se comparados com os nossos vizinhos, estamos abaixo de Argentina e Chile. A Dona Valdirene,  cuja história abriu este artigo, teve que retornar ao hospital em outras oportunidades, mas  agora  está bem de saúde. Quem  não pode ficar bem é o Hospital “Emílio Carlos”  que a atendeu e que teve que bancar a conta da sua internação, assim como vem bancando a conta  de dezenas de milhares de pessoas que,  em qualquer país sério do mundo cabe ao governo. Como escreveu Vespasiano em carta entregue ao seu filho Tito. Ad captandum vulgus, panem et circenses (Para seduzir o povo, pão e circo).

Este artigo é dedicado aos dirigentes e voluntários que administram os hospitais filantrópicos e casas de saúde – verdadeiros heróis.       

                                                        advogado tributário

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