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OS (E)VENTOS DOS IDOS TEMPOS


  4 de fevereiro de 2013

OS (E)VENTOS DOS IDOS TEMPOS   

                                                                 José Carlos Buch

Estamos em um mês qualquer do final  da década de sessenta. Depois de quase meio século, difícil situar no tempo fatos que somente os fugazes lampejos remanescem. A Praça da República estava repleta de curiosos e  a Rua Brasil, no quarteirão entre as Ruas Sergipe e Alagoas, foi interditada. A grande concentração de pessoas estava postada em frente ao Clube dos 300, então um prédio imponente, que abrigava no andar térreo o Supermercado Serv-Lev e as lojas “It”, respectivamente, supermercado e magazine(os primeiros da cidade); no primeiro andar funcionava anfiteatro, mesas de snoker, ping pong, etc,   exclusivo para sócios;  no segundo,  um salão social onde se realizavam eventos, casamentos, bailes e, principalmente, o mais  famoso “Revéillon” da cidade,   também exclusivo para os sócios; no terceiro achava-se instalada a sauna, para os sócios e convidados destes; e  finalmente no quarto andar, salão de  jogos, depois ocupado pela churrascaria da Margarida. Os sócios davam vida ao clube com presença sempre marcante e utilização das suas dependências, muito bem conservadas e aprazíveis. Mas era noite de verão e céu de brigadeiro; o calor, à época bastante tolerável, convidava as pessoas assistir o espetáculo que havia sido anunciado em prosa e verso pela então rádio difusora, jornal “A Cidade”, serviço de auto-falantes  e carro de som do Hélio Silva, que nos três últimos dias havia percorrido os bairros e a periferia da cidade anunciando a apresentação. Do teto do edifício do Clube dos 300,  um imenso cabo de aço se estendia até á pérgula da praça. Muitos,  indignados ficavam a imaginar para que serviria o cabo de aço;  outros compravam sorvete de palito que o Orestes habilmente havia distribuído aos vendedores ambulantes; não faltavam também os carrinhos de pipoca, algodão doce e até mesmo um senhor moreno, forte e de cabelos grisalhos que não se cansava de  encher balões de gás com a marca da patrocinadora do evento,  que eram distribuídos à garotada que o rodeava e,  até mesmo alguns adultos com espírito de criança. De repente, o serviço de som anunciou que o espetáculo iria começar, com o patrocínio da Liquigás. Do alto do teto do Clube dos 300 surge sobre o cabo de aço um ciclista que lentamente começa a travessia até a pérgula. Depois faz o trajeto de volta com  os olhos da multidão voltados para si. Mas o espetáculo não acabou. O número seguinte foi mais emocionante. Desta feita conduzia a bicicleta e,  apoiava nesta um balanço ocupado por uma jovem ostentando a bandeira do Brasil. Se conduzir uma bicicleta sobre um cabo de aço não era uma tarefa fácil, imagine tendo a tiracolo mais uma pessoa. A cada etapa cumprida as palmas ecoavam e o ciclista agradecia acenando para o público. É possível que poucos se lembram desse desafio, mas, os que  ainda dele se recordam seguramente não tem como esquecer que o evento foi  patrocinado pela “Liquigás”, até então uma marca desconhecida na cidade onde imperava a marca “Ultragaz” (com “z” mesmo, representada pela loja “Julio da Cruz & Filhos”).  Alguns  anos antes, o Parque das Américas, com os seus bens cuidados jardins que ocupavam duas quadras, desde a Rua Maranhão até a Rua Pará, e flamboyants adornando toda a margem do Rio São Domingos de muita água, quase nenhuma poluição e povoado de peixes(tambiús, lambarís, tilápias, etc), foi palco de outro desafio.  Patrocinado pela Bicicletaria Nossa Senhora Aparecida, dos sócios Pedro Stoco(Pedrão) e Juvenal Terencio(Geléia) e, salvo engano, também pela Caloi,  um jovem ciclista se propunha a permanecer pedalando por sete dias, de forma ininterrupta, na área de passeio dos jardins que ficavam na quadra onde hoje funciona o Terminal Rodoviário. É preciso lembrar que na quadra onde hoje está o Fórum, funcionava a creche “Elizabete Felipe”, assim chamada em homenagem à jovem que anos antes havia falecido vítima de atropelamento naquele local, mais precisamente,  na esquina  da Rua 7 de Setembro com Rua 15 de Novembro. O jovem ciclista de estatura mediana, mãos brancas de pó de gesso para não transpirar e muita resistência, fazia suas refeições pedalando e se banhava também pedalando no Hotel Líder,   conduzido e apoiado pelo Pedrão. Decorridos pouco mais de três de dias do seu início, as autoridades impediram que a  meta fosse alcançada e assim, a prova de resistência teve que ser interrompida, para decepção da bicicletaria patrocinadora e também do público que acompanhava a performance do ciclista de perto. Hoje, qualquer uma das duas atrações, certamente não despertaria a mesma atenção que despertou à época. Os tempos eram outros e a vida pedia muito pouco e nós precisávamos de menos ainda.  

                                                                 advogado tributário

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