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PAI DOS FUNCIONÁRIOS, PATRÃO DOS FILHOS


  20 de junho de 2013

PAI DOS FUNCIONÁRIOS, PATRÃO DOS FILHOS

                                                                 José Carlos Buch

                                                        “A calma é a postura interior que

                                                        você deve assumir nas horas de crise

                                                         ou nos momentos de decisão.”  A.N.

O último dia 14 registrou dez anos do falecimento do empresário Aurélio Nardini.  O Livro editado “Aurélio Nardini, uma história muitas vozes” magistralmente retrata a trajetória e o perfil desse empresário, cujo maior legado foi o exemplo de que nada resiste ao trabalho, nem mesmo a adversidade, por maior que ela seja.  Esse singelo artigo pretende, muito mais do que homenageá-lo, mostrar o seu lado, não do empresário bem sucedido e idealizador, mas sim o de ser humano que escolheu nossa cidade para se fixar, viver e criar seus filhos. Italiano de nascimento, quis o destino o fizesse tão  brasileiro como ninguém e, mais do que isso,  orgulhoso da família que aqui constituiu e dos funcionários que,  desde o início o acompanhavam e continuam nas empresas até hoje.  Com o seu sotaque característico que não escondia sua origem peninsular “Dr. Aurélio”,  como era chamado,  era um entusiasta da cana de açúcar, cujo tapete verde dessa cultura amoldando imensas planícies,   lhe enchiam os olhos de alegria, renovando seu entusiasmo que acreditava no potencial energético do álcool e a importância do açúcar no mundo. Predestinado, em três oportunidades viu a morte de perto e, em todas elas conseguiu driblar o infortúnio, saindo fortalecido de cada episódio, sem se orgulhar disso ou mesmo lamentar pela experiência vivida. Além dos familiares, poucos sabiam dessas passagens que pontuaram a sua vida e que eram guardadas nas gavetas de sua lembrança, não como troféus, mas como páginas de lições que, talvez o ajudaram a torná-lo um ser humano extraordinário. A primeira se deu quando criança na Itália. Todos os dias ia à escola de trem arrastando sua bolsa com cadernos e livros. Num determinado dia, ao sair do último vagão, mal colocou os pés na plataforma e a sua bolsa foi levada de roldão por um outro trem desgovernado, que colidiu com o primeiro e por poucos centímetros não o atingiu. A segunda, ainda mais trágica, se deu na segunda guerra mundial. Ele fazia parte de uma equipe de socorristas italianos, que recolhiam os feridos em combate ou pós combate. Numas dessas operações, foi anunciado ataque aéreo e todos procuraram se abrigar em  esconderijos. O então jovem Aurélio, nessa tarefa, fazia dupla com um amigo de infância que foi um dos últimos a conseguir se alojar no local de proteção. Aurélio não teve o mesmo infortúnio, pois o abrigo foi detonado por uma das bombas arremessadas do alto e todos que lá estavam perderam a vida. Finalmente,  o terceiro episódio se deu com o seqüestro do qual conseguiu escapar do cativeiro diante do cochilo do seqüestrador que o mantinha sob vigília. Costumava dizer que “o sucesso é 95% de transpiração e 5% de inspiração, e um ventinho a favor sempre ajuda.” Ao deixar a Usina Catanduva, começou modestamente a sua vida de empresário com um pequeno engenho de pinga, que se tornou o embrião da moderna usina instalada próximo do local do engenho no município de Vista Alegre do Alto, para onde se dirigia todos os dias, antes do raiar do sol,  dirigindo o seu inseparável Opala e ouvindo o jornal da Rádio Bandeirantes. Era humilde, determinado, dinâmico e visionário do amanhã. Dona Guiomar, sua eterna companheira,  costumava dizer que o Aurélio era como um pai para os funcionários e patrão para os filhos.  Não deixava de  ser conservador mesmo nos momentos de euforia e aquecimento do mercado do açúcar e álcool, porque entendia que isso era cíclico, pois anos de dificuldade logo se seguiriam e as reservas não podiam faltar e, dificilmente se equivocava. Muitos dos que não seguiram esta cartilha sucumbiram no meio do caminho. Decano rotariano, tinha por hábito a nobreza de, sigilosamente e discretamente, procurar o tesoureiro e saber de eventual companheiro em atraso ou com dificuldade de pagar a mensalidade. Não só quitava a dívida, como deixava instruções ao tesoureiro para, se questionado, dizer que o clube havia dispensado do pagamento. Incansável no trabalho, tinha como única fuga duas ou três viagens para a sua cidade natal, próxima de Roma, onde matava a saudade com o irmão Ermenegildo e com os amigos que lá ainda remanesciam. Após dez anos de sua ausência física entre nós, é difícil não imaginar o Dr. Aurélio também como um professor, pois toda a sua trajetória de vida foi norteada pelo princípio de acreditar nos seus colaboradores, transmitindo a eles a motivação, incentivo, mas, sobretudo, exemplo da importância do trabalho, da dignidade, do caráter, da postura ética, enfim, exemplo de vida,  que pode ser traduzido pela mensagem extraída do filme “O Club do Imperador – St.Benedict´s College” —  “… Um grande professor tem pouca história para registrar. Sua vida se prolonga em outras vidas. Homens assim são pilares na estrutura de nossas escolas, mais essenciais que seus tijolos ou vigas e continuarão a ser centelhas e revelações em nossa vida.”

P.S. Coincidência ou não, mas o fato é que  este artigo começou a ser escrito no dia 14 de junho, exatamente no dia do aniversário de  10 anos do falecimento do Dr. Aurélio.  

                                                        advogado tributário

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