SENHOR DA IMPRESSÃO
SENHOR DA IMPRESSÃO
José Carlos Buch
Nascido em Madri/Espanha, no dia 02 de dezembro de 1914, de baixa estatura, gestos simples, voz pausada sem jamais se alterar, afável e gentil, viveu seus 77 anos para oferecer uma boa impressão e, nem de longe lembrava as atitudes rompantes e até intempestivas próprias dos espanhóis. Não, não se trata de impressão no sentido de impressionar, embora o seu trabalho reconhecidamente sempre convergisse nesse sentido, mas o fato é que este homem dedicou uma vida à arte de confeccionar impressos. Aqui chegou no ano de 1938, quando iniciou o seu trabalho fundando a então modesta Tipografia Ipiranga, primeiramente na Rua Pernambuco, nº 34 e, anos depois se transferindo para a Rua 7 de Setembro, onde está até hoje. Um ano depois de iniciar o seu negócio, em 1939, casou-se com Francisca Rodrigues Martin, e viveram juntos mais de meio século. Era o tempo das letras de chumbo que, uma a uma, eram juntadas para compor a chapa no componidor(peça de metal na medida do impresso desejado) que, uma vez concluído, era depositado na bolandeira(espécie de bandeja) para poder ser manipulado para a feitura da prova com o emprego do prelo(aparelho constituído de mármore e rolo movido a mão) para, em seguida, ser direcionado para as impressoras, estas no início manuais da marca “Minerva” e depois mecânicas. Detalhe – as composições tipográficas, tal como a criação do alemão Johann Gutenberg (1398-1468), eram realizadas de ponta cabeça, o que exigia muita habilidade dos tipógrafos no encaixe das letras e sinais. Além do papel, cola, tinta, esta derivada de petróleo, outros equipamentos se faziam indispensáveis numa gráfica, como a guilhotina para aparar os impressos, a prensa, a picotadeira, usada principalmente para os talonários de notas fiscais, etc. Não se pode esquecer também do recurso dos clichês, que eram reproduções de desenhos ou fotos fundidos em zinco e que desapareceram com a chegada do fotolito. Por anos a cidade contou ainda com a Tipografia “Pires”(Rua Alagoas esquina com Rua Amazonas); “São Domingos”, dos irmãos Boso, na Rua Minas Gerais, fundada na década de cinquenta; “Wonhat”, na Rua Paraíba, ao lado da antiga Casa Facci; “O Século”, do Mozart da Costa Nunes, que deu nome à primeira revista impressa da cidade, que funcionava na Rua Pernambuco, nº 429 e posteriormente a “Gimenes”, na Rua Alagoas, nº 388, que editou também, por muitos anos, a revista “Feiticeira” e, cujo fundador, Augusto Gimenes, foi funcionário da Ipiranga. Este empreendedor ousado e comprometido com trabalho, cujo nome de tão forte, sobressaiu-se ao nome de fantasia “Ipiranga” por ele imaginado, aqui construiu um patrimônio, muito mais do que de tijolos, alvenaria, telhas, máquinas e equipamentos, mas, sobretudo, de exemplos de amor e dedicação incondicional ao trabalho e à cidade que o acolheu e escolheu para viver. Quando completou 50 anos em 1988, a Gráfica Ramon Nobalbos foi capa da então revista “A Feiticeira” e extensa reportagem nas págs. 12/13 daquela revista. Na página 15, portanto, na sequência, o artigo deste colunista com o título “O Brasil – A crise do Desafio” e como subtítulo a frase de João Batista Figueiredo –“Reaparecem hoje sinais que lembram de forma dramática, as experiências da década de 30”, que será oportunamente publicado, por ser ainda atual. No próximo dia 01 de outubro, já na quinta geração, a gráfica por ele fundada estará completando 75 anos e seu idealizador, Ramon Nobalbos Roman, se vivo estivesse entre nós, estaria completando proximamente 99 anos. Antes de viajar para os Campos do Senhor, em 08 de fevereiro de 1991, teve a oportunidade de ver a reportagem da Revista “Feiticeira” de setembro de 1988 que foi encerrada com a seguinte frase que, conjugando o verbo “ser” no passado, se revela incontestavelmente atual – “Ele, RAMON NOBALBOS, é(foi) a fonte inspiradora e modeladora do caráter, fibra e amor ao trabalho de seus descendentes.” Seguramente Senhor Ramon, como era sobejamente conhecido, deixou como maior legado exemplos sábios para os que sucederam e a mensagem para que continuassem a fazer o que ele fazia tão bem e com tanto amor e, se possível, ainda melhor. Precisa mais?
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