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TONINHO DO GUIDÃO DE OURO


  18 de novembro de 2011

TONINHO DO GUIDÃO DE OURO

                                                                  José Carlos Buch

Estamos em frente ao Edifício “Yazigi”, na Rua 13 de Maio, nº 337 num final de tarde. Eis que surge o “Toninho” vindo do seu apartamento que fica no prédio vizinho trazendo um pequeno pacote nas mãos. Como de hábito e como palmeirense fanático(ninguém  é perfeito!), conta-nos duas ou três piadas rápidas  ironizando o Corinthians, atravessa a rua e se dirige até o estacionamento “Mangueira” do lado oposto da calçada. Entrega ao porteiro, um senhor negro com os seus sessenta e poucos anos, mas aparentando muito mais,  o pequeno embrulho, despede-se e se vai. A curiosidade sobre o misterioso pacote logo se dissipou, verificando-se  tratar-se do lanche da noite, indispensável para quem teria que superar o sono e o cansaço nas doze horas  de trabalho noturno que teria pela frente. Esse simples gesto de generosidade não era uma iniciativa isolada já que o fazia com freqüência. A Bíblia diz que  “Agrada a Deus quando damos generosamente”(Esdras 2:68-69). Contudo, o nosso Toninho certamente não só agradava a Deus com o seu gesto, mas também e principalmente a si próprio, pelo fato de poder dividir o pão com o seu próximo mais próximo. A história desse personagem  que, além de  generoso e sempre de bem com a vida, nos remete aos anos 1965. Vindo da sua terra natal Pirangi, orgulhava-se pelo seu pioneirismo em acreditar no potencial comercial da Rua Maranhão ao se estabelecer no início daquele ano,  próximo da Rua Minas Gerais. Começou com uma pequena oficina de conserto de bicicletas batizada com o nome de “O Guidão de Ouro” para, logo em seguida  se tornar uma loja de revenda das magrelas então utilizadas quase que exclusivamente como veículo de transporte  e lazer das poucas crianças mais afortunadas. A paixão por aquele ponto da Rua Maranhão o levou a adquirir o prédio que era uma igreja adventista e dizia em tom de brincadeira,  ter comprado o prédio, mas não os fiéis da igreja. Na época, a Calói concorria com a Monark e ambas concorriam com as importadas Philips(considerada a melhor) e Gulliver, dentre outras. Foi nesse ramo que passou a ser conhecido por “Toninho do Guidão de Ouro”, rótulo que ganhou tanta força que,  poucos se lembravam que o seu verdadeiro nome de batismo era Antonio Rodrigues, posteriormente, adotado também o prenome Rondon(sobrenome da mãe), para por fim aos doze  homônimos que  existiam e que lhe causaram muitos aborrecimentos. Na época do Natal fazia questão se caracterizar de “Papai Noel” e entregar pessoalmente as bicicletas vendidas, privando a sua família da tradicional ceia, mas fazendo dessa fantasia a  alegria de muitas crianças e, a sua própria que perpassava o interesse comercial. As crianças eram a sua maior paixão não faltando para entretê-las, truques de mágica como esconder moedas, adivinhar ou fazer desaparecer cartas de baralho. Nessa época era comum a aquisição de tecidos para a confecção das roupas em casa. Os mais antigos faziam questão de oferecer à filha, como presente da noiva, uma máquina de costura. As marcas mais famosas Elgin, Singer,  Vigorelli, Minerva e Pfaff, eram um presente de luxo e chegavam a custar o preço de uma geladeira de hoje. Consistiam de um móvel com pés de ferro e estojo de madeira que permitia recolher a máquina quando não em uso. Com uma Komb o Toninho visitava as casas das fazendas vendendo as máquinas de porta em porta,  na modalidade de pronta entrega. Com o passar do tempo, as confecções passaram a ganhar espaço e as  máquinas de costura perderam a sua importância e seu encanto,  tornando-se aos poucos um artigo em desuso. No mercado de confecções que se inaugurava a  loja “Ducal” foi uma das pioneiras em São Paulo, tinha o casal Tarciso Meira e Glória Menezes, como “garotos propaganda” cujo comercial sempre terminava com a melodia “Ducal, Ducal, Ducal…”(lembram disso?). O anúncio de TV enfatizava que o terno de tergal era composto de duas calças – uma para usar no dia-a-dia e outra para ser usada com o paletó. Como sua principal concorrente tinha a loja “Garbo”, fundada em 1921,  com o slogan  “empresa número um em moda masculina no Brasil” e que ainda existe em Campinas. Hoje, as máquinas de costura só existem nos ateliês dos costureiros,  artífices da moda e nas casas das poucas costureiras que ainda persistem no ofício. As bicicletas passaram a ser conhecidas como “bikes” e, embora importantes como veículos de transporte,  são mais usadas para o esporte e o lazer. São bastante leves e  dotadas de vários acessórios, muitas chegam a custar o preço de uma moto. Com a partida do “Toninho” aos 68 anos em 17 de agosto de 2006, o “O Guidão de Ouro” deixou de existir,  a cidade perdeu um pouco da sua alegria e um  empresário pioneiro e ilustre. É possível que estava faltando exemplo de  generosidade e, sobretudo,  bom humor no céu. O “Toninho do Guidão de Ouro” que no dia 23 de dezembro estaria completando 73 anos,  está para aqueles que com ele conviveram como o ato de andar de bicicleta e de costurar – nunca se esquece.                                         

                                                                  advogado tributário

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