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UMA HISTÓRIA QUE MERECE SER REPRODUZIDA


  7 de maio de 2020

  UMA HISTÓRIA QUE MERECE SER REPRODUZIDA

                                                                                  José Carlos Buch

Em 12/02/2010, o jornal Gazeta do Povo, de Curitiba,  publicou interessante artigo com o título “Uma história que merece ser contada”,  escrito por Marleth Silva. A sua reprodução ipsis litteris, temos certeza, agradará os leitores como, à época, agradou os que leram o original naquele prestigiado jornal. Boa leitura! – “Tem histórias que pedem para serem passadas para frente, de tão boas que são. A de João Arbués Moreira é assim. É também a história de seu avô, João Camacho. Mas foi João Arbués que conheci quando visitei um museu, em Sintra, perto de Lisboa. Por isso é sob seu ponto de vista que posso contá-la. João Capucho nunca estudou, mas ganhou muito dinheiro. Por isso, achava desperdício de tempo frequentar escola e debruçar-se sobre livros. Não queria saber dos netos adorados estudando e tinha uma estratégia para neutralizar o empenho do resto da família para torná-los cultos e preparados: em véspera de provas, o avô os presenteava com novos brinquedos para distraí-los. Eram li­­vros de um lado e, do outro, brin­­quedos novinhos em folha, escolhidos entre os mais tentadores que o dinheiro podia comprar. Os brinquedos venceram algumas batalhas e João Arbués levou notas baixas para casa. Quando a notícia do fiasco chegava ao avô, o que ele fazia? Premiava o desatento com novos brinquedos. Um dia, na escola, um professor perguntou se as crianças faziam coleções. Alguém respondeu selos; outro, figurinhas e João Arbués, com naturalidade, disse “brinquedos”. A classe caiu na risada, para espanto do menino que tinha achado sua resposta muito natural. O professor defendeu-o. Sim, é possível colecionar brinquedos e, como outros objetos da vida cotidiana, eles ajudam a entender a época em que foram criados. João Arbués ainda usa esse argumento para apresentar seu museu. Para corroborá-lo, estão nas vitrines os soldadinhos de chumbo entrincheirados na Primeira Guerra Mundial, os trens e ferrovias que retratam os anos em que este era o meio de transporte mais importante, os carrinhos de lata feitos com embalagens recicladas de sardinha porque não havia metal disponível durante a Segunda Guerra Mundial. E tem o jogo de tabuleiro soviético em que, independente da habilidade do jogador que estava com as cartas francesas, americanas e japonesas, era sempre a Rússia que vencia a partida. Homem elegante, que se locomove em cadeira de rodas por conta de um AVC, João Arbués,  passa pelo museu diariamente, apesar de viver em Lisboa. Não pense o leitor que ele faz graça da estratégia do avô. Ao contrário, inicia o relato com um planejadamente envergonhado – “eu não deveria contar isso”. Mas conta. Para afastá-los da influência do velhinho que teimava em acreditar na permanência da lógica colonial e desprezar o avanço do conhecimento técnico, o pai de João Arbués mandou os filhos fazerem faculdade na Inglaterra. O que provocou o seguinte comentário de João Camacho: – “Agora é que você estraga esses meninos de vez”. Também revela um pudor crítico ao contar como o dinheiro entrou na sua família. Foi através do açúcar plantado no Brasil, mais precisamente na Paraíba, pela mão de obra escrava. Um tio-avô, o brasileiro José Américo de Almeida, relatou a história da região no romance A Bagaceira e em outros tantos. Foi membro da Academia Brasileira de Letras, senador, ministro e quase vice-presidente da República (o golpe de Getúlio tirou-lhe a oportunidade). O item favorito de João Arbués,  é uma Ferrari em miniatura que se abre para guardar uma garrafa de vinho. Os carrinhos eram feitos sob encomenda para Enzo Ferrari, o criador da escuderia, que os usava para presentear os amigos. No museu de Sintra, há uma foto de Ferrari entregando o brinquedo para Juan Manuel Fangio, o piloto argentino que correu em 1956,  com uma Ferrari. O que está no museu foi visto por um amigo de João Arbués em um restaurante de Florença, na Itália. Avisado, ele pegou um avião e foi para a Itália atrás da miniatura. Não diz quanto pagou, mas dá uma pista. Ao saber o valor pago, sua mulher contestou: –  “Você comprou o brinquedo ou uma Ferrari de verdade?”. Era o brinquedo, que está agora no museu para ser visto e apreciado por criancinhas que passam distraídas, sem imaginar quanta história está por trás daquelas vitrines, mas aprendendo alguma coisa com ela.”

Fonte: ttps://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/colunistas/marleth-silva/uma-historia-que-merece-ser-contada-a9q8ju10uiett4gdug94whu8e/Copyright © 2020, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

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