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VAGA-LUME TEM-TEM…


  31 de dezembro de 1969

VAGA-LUME TEM-TEM…                                                                       
José Carlos Buch                                      

Quem é da geração dos anos cinqüenta/sessenta, quando criança e mesmo na adolescência, sequer imaginava que um dia seria possível a Internet, celular, TV digital e tantas outras inovações tecnológicas hoje incorporadas no nosso dia a dia e, das quais somos dependentes desmedidos e assintomáticos. Conquanto, a falta de todo esse aparato tecnológico provavelmente contribuiu para àqueles que hoje colecionam mais de cinqüenta anos de juventude, tivessem desfrutado de uma infância e adolescência afortunadamente feliz. Além das brincadeiras de salva-pique e peladas, quase todos os dias em campos de chão batido, as preocupações não iam além de passar de ano, como era conhecida a obrigação de ser aprovado na escola. E, diferentemente de hoje, como o tempo demorava a passar e como a vida transcorria sem automatismo, atropelos, boletos bancários, débito automático etc   e, portanto, mais alvissareira.  À noite, não havia programa ou novela de TV capaz de prender alguém em casa. Era o tempo das brincadeiras sob a luz do poste de aroeira e, a caça aos vaga-lumes,  desde os “caga-sebos”, como eram conhecidos, que transmitiam uma luz intermitente e que, uma vez capturados eram esfregados na camisa para deixá-la fosforescente, até os pirilampos, maiores e que produziam luz intercalada e mais intensa. Para atraí-los era usado o chavão “vaga-lume tem-tem, seu pai tá aqui, sua mãe também.” Nas sextas feiras, “sessão do troco” no “Cine Central”, normalmente com a exibição de seriados, filmes do “Tarzan” ou “Jim das Selvas”. Aos sábados e domingos, além da opção de ver um filme num dos quatro cinemas: Central(com suas cadeiras de madeira da marca Cimo), Bandeirantes, República e o moderno e avançado, para a época, Cine Tropical. O filme, por melhor que fosse, não impedia a troca de beijos entre os jovens namorados. Era praxe, também,  freqüentar o footing na Praça da República. Os homens formavam um corredor por onde as meninas circulavam em vota da praça e a paquera, ao estilo de uma piscada maliciosa com o olho esquerdo,  rolava à solta.  Tomar uma suculenta vitamina, uma garapa(caldo de cana), um sorvete, ou quem sabe saborear um bauru na “Garaparia e Sorvetoria do Orestes”, servidos pelo Dante ou pelo Costela, era um programa indispensável. Às vinte e duas horas pontualmente, o serviço de alto falante independência, que era transmitido para a Praça da República e Parque das Américas, comandado à época por Hélio Silva e, a partir de 1969, por Pedro Castilho Gonzalez,  encerrava a transmissão executando a tradicional música “Summer Place” tema do filme “Amores Clandestinos”, também conhecida como “hino das virgens”. Era a senha para a  demandada das mocinhas em retorno às suas  casas,  deixando a grande maioria dos jovens meninos a ver navios. Ah, não faltavam também as “brincadeiras dançantes” como eram conhecidas, normalmente realizadas aos sábados à noite e domingos à tarde, sempre em casa de alguma menina do grupo ou da turma, ao som da lendária “Sonata” (o toca discos de maior sucesso na época). Poucos sabiam dançar, mas, com um pouco de caipirinha ou  chuvisco (soda com cachaça) ou, ainda,  cuba libre(gim, coca-cola e limão), a inibição era vencida. Entre uma dança e outra, com direito a pisões  e falta de ritmo, muitos namoros se iniciavam. Era uma época de muita ingenuidade, nenhum pé de borracha(veículo), pouca grana, pouco comprometimento, nenhuma droga,  mas, sobretudo, um período feliz e fascinante da vida. Pena que tudo isso tenha desaparecido, não passando hoje de retalhos esmaecidos de um tempo que não volta mais  ou simplesmente lampejos de memória.                                                                                       

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