Possivelmente em nenhum outro lugar, um rio e uma estrada de ferro foram tão historicamente marcantes ao dividir dois povoados que se rivalizavam e se hostilizavam. Do lado norte Ibarra e do lado oposto, mais a sudeste, Catupiry. A saga permaneceu mesmo após a emancipação, que politicamente uniu os dois lados, que se deu em 18 de fevereiro de 1959 e perdurou por décadas até que finalmente o bairrismo se dissipou, o mesmo ocorrendo ao futebol, vez que dois times amadores e rivais da cidade – Paulista(do lado sul) e Santa Isabel(do lado norte), praticamente deixaram de existir. Ainda hoje, um ou outro morador antigo não hasteou a bandeira da paz, mas isso é muito raro! Terra de filhos ilustres, dentre eles o senador Orlando Gabriel Zancaner e o jornalista, advogado e locutor da BBC de Londres, Emílio Carlos, que inclusive dá nome a importante hospital de nossa cidade. Catiguá é também a terra natal de Renato Segura Ramires, que no dia 07 de outubro teria completado 93 anos. Médio volante com muita habilidade, compunha junto com Nito Serafim um meio de campo extraordinário do Paulista, que era imbatível jogando em casa, no seu estádio circundado por eucaliptos. Em 24 de junho de 1.969, ele teve a iniciativa de fundar, bem no centro da cidade, mais precisamente na Rua Maranhão, nº 285, próxima da esquina com a Rua Pernambuco, vizinha da antiga sorveteria Cedal, a Cerealista Maranhão, que acabou se tornando um dos maiores distribuidores e atacadistas do estado. Do atacado surgiu o supermercado do mesmo nome que se tornou ícone em Catanduva. Durante mais de duas décadas da sua existência, era muito comum ouvir em nossas casas, – “comprei no Maranhão”, ou, – “lá no Maranhão tem!!!”. As lojas de Catanduva, Santa Adélia e São José do Rio Preto, chegaram a atender, em conjunto, mais de 30 mil clientes e a marca “Maranhão” tornou-se sinônimo de supermercado moderno onde era possível encontrar de tudo com destaque à qualidade. Na época, “Maranhão” em nada fazia lembrar o estado do nordeste conhecido pelos currais políticos e o presídio das “Pedrinhas”, palco de barbáries e da decadência da presença do estado, mas sim sinônimo de atacado generalista e supermercado top, orgulho da cidade. O nome “Maranhão” tornou-se tão forte que fez a rua da cidade onde nasceu a empresa, mais popular que o próprio estado que lhe empresta o nome. Não por acaso, a principal loja da rede foi instalada no início da mesma Rua Maranhão. Infelizmente, o seu idealizador e fundador não viveu para estar presente no dia da comemoração de aniversário de 45 anos da empresa. Hoje a empresa não está mais ativa, mas o prédio e a esteira rolante da sua principal loja, embora explorado por outra rede, não deixam esquecer que a cidade teve um supermercado local muito à frente do seu tempo. Fato é que, depois de lutar e conviver por longos anos com uma doença que o impedia de ser tão atuante quanto gostaria, Sr. Renato acabou sucumbido por esta e partiu no dia 13 de novembro de 2013, quiçá para construir novo empreendimento de sucesso nos planos de Deus e também reencontrar velhos amigos de infância e de mocidade. Por certo, nunca o nome de um estado pobre da federação foi tão enaltecido no segmento nacional do atacado e distribuição de produtos e, ainda, no concorrido ramo de supermercados, como foi o Maranhão. E, tudo isso graças ao trabalho de um homem que, sempre foi bom em tudo que fez; bom de bola; afável e dedicado à família; religioso e generoso; empreendedor e empresário bem sucedido. Decorridos exatamente dez anos da sua morte, vem à lume a frase escrita um dia pelo advogado da ABRADA-Academia Brasileira do Agronegócio, Ebrimino Varaschin, “A saudade é a solidão da amizade que fica quando o amigo já foi.”