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  23 de agosto de 2023

O “RAPA” DA EFA


Os mais jovens certamente nunca ouviram falar da Estrada de Ferro Araraquara-EFA, que ligava Araraquara à estação Presidente Vargas, na antiga Rubinéia, na barranca do rio Paraná. A ferrovia permaneceu em atividade de novembro de 1896 até outubro de 1971, quando foi extinta e incorporada à FEPASA – Ferrovia Paulista S/A., e ato sucessivo estatizada. O auge da ferrovia foi na década de 50 e 60, quando além de responder por grande parte do transporte de cargas, era também o principal meio de transporte de pessoas, até ser superada pelos ônibus e caminhões pesados que praticamente dominaram o mercado de transporte. A EFA era tão importante e oferecia tantos benefícios aos seus funcionários que era um privilégio ser ferroviário à época. Em Catanduva, onde a EFA chegou em 1910, com a inauguração da primeira estação, até mesmo um conjunto de casas padronizadas para os seus funcionários foi construído pela companhia no bairro do São Francisco, na Rua São Luis esquina com a Rua Acre, sendo que algumas ainda mantém a mesma arquitetura da época em que foram construídas. Outras três, destinadas ao chefe da estação e dois subchefes, foram também construídas no Bairro do Higienópolis, na Rua Espirito Santo esquina com a Rua Goiás que, igualmente, permanecem originais. Todos os funcionários com cargo de chefia usavam gravata que os diferenciava dos demais. Era a tradição hierárquica e a filosofia dos Ingleses que implantaram o serviço de ferrovia no país a partir de meados do século XIX. Os funcionários também contavam com um clube social, cujo prédio existe até hoje na Rua Municipal, próximo à rua Curitiba. O chefe da estação era tão importante que tinha até uma cadeira identificada e reservada nos cinemas da cidade, ao lado da cadeira reservada ao juiz de direito. Provavelmente porque os rolos de filmes chegavam através da estrada de ferro. Na época de ouro da EFA, era chique viajar à noite para São Paulo ocupando uma cabine no carro leito, também conhecido como “Gilda” e dormir com o sacolejo característico do trem, além de desfrutar do sofisticado restaurante. Tinha também o carro pulman com modernas e confortáveis cadeiras giratórias que era superior ao carro de primeira classe. Era um tempo mágico e idílico. Um outro benefício que era concedido aos ferroviários era a possibilidade de fazer pedido adredemente e comprar mercadorias (alimentos, enlatados, produtos de higiene e limpeza, enfim tudo o que era consumido em casa), através da própria companhia. Em dia determinado do mês religiosamente esses produtos chegavam pelo trem e eram retirados na estação onde os carroceiros de plantão se encarregavam de transportá-los até a residência de quem as comprou. A concorrência para fazer o maior número possível de carretos era grande entre os carroceiros. Essa modalidade de compra era também conhecida como “rapa” e, segundo Laiér Pereira da Silva, filho de ferroviário, o nome tornou-se popular pelo fato de o valor dessas compras ser descontado na folha de pagamento e praticamente rapar o salário do ferroviário. É preciso lembrar que, à época, não existiam supermercados na cidade e os produtos fornecidos pela companhia tinham um custo menor dos vendidos nas vendas, empórios e também nos grandes varejistas tradicionais da cidade, dentre eles, Casa Mardegan, Casa Matos, Dias Martins, etc. Os tempos são outros, mas em países de primeiro mundo, principalmente na Europa, a ferrovia concorre com as companhias aéreas oferecendo rapidez e conforto, com a conveniência das estações sempre localizadas no centro das cidades, facilitar o deslocamento do passageiro. Mas, voltando à nostálgica EFA, porquíssimos são os ferroviários ainda vivos em nossa cidade e atualmente o “rapa” tem outros sentidos: pode ser uma determinação impositiva dada a alguém (inconveniente ou não), para deixar o local em que está, do tipo – “rapa daqui”, ou ainda soar como alarde(olha o rapa!!!) dado pelos ambulantes das regiões da 25 de Março, Brás e Bom Retiro, em São Paulo, anunciando a chegada dos fiscais da prefeitura. Como se vê, etimologicamente, até o rapa(do verbo rapar) ganhou novos sentidos com o passar do tempo.

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